segunda-feira, 13 de novembro de 2023

A CARTA DO AINDA 1.º MINISTRO ESTÁ FORA DO BARALHO DA REALIDADE DO S.N.SAÚDE

Lendo a carta do ainda 1.º Ministro António Costa, em resposta ao médico António Sarmento, publicada na edição do jornal Público de 6 de Novembro de 2023, sobre o Serviço Nacional de Saúde (S.N.S.), não seria difícil concluir que afinal a situação não está tão mal como parece.

Diz o ainda 1.º Ministro na sua carta, que de 2015 até 2023, aumentaram o número de consultas, cirurgias e atendimento de episódios nas urgências. Segundo o que está proposto para o Orçamento de Estado de 2024, os recursos financeiros para o S.N.S. aumentam mais 72% do que em 2015.

Diz ainda a carta, que a par da reforma de organização do S.N.S. existem investimentos em 147 novas construções, 347 requalificações de unidades de saúde, construções como o novo Hospital Central do Alentejo, aumento da capacidade da rede nacional de cuidados continuados até 2025, com mais de 5000 camas na rede geral e 400 nos cuidados paliativos.

Mas o que parece mais significativo é a parte da carta que se refere aos profissionais de saúde, que serão hoje mais de 150 mil, mais 37.500 (25%) do que em 2015, com mais 6.308 médicos, 12.017 enfermeiros e 2202 técnicos superiores, incluindo os de diagnóstico e terapêutica. Embora sendo ignorado o número de profissionais que saíram por reforma e outros motivos, bem como o arrastamento de negociações, que no caso dos médicos já dura há 16 meses.

A carta de António Costa é uma carta fora do baralho da realidade, ao passar por cima do que acontece, quase todos os dias, à porta de centros de saúde e de urgências hospitalares encerradas, com milhares de pessoas doentes a necessitarem de apoio médico e sem o conseguir, o que é inaceitável e revela o desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde, colocando em causa o direito à saúde

O orçamento do S.N.S. de 2015 a 2023 cresceu na ordem dos 66%, mas o número de utentes sem médico de família cresceu 60%, sendo no final de Outubro mais de 1 milhão e 600 mil. Actualmente haverá menos 400 médicos de família que em 2022. As consultas nos cuidados primários de saúde foram menos um milhão e 500 mil em 2022, comparativamente com 2021. Os recursos humanos cresceram 26%, mas a lista de espera para cirurgias cresceu 39%.

No final de Setembro de 2023, a execução do investimento no S.N.S. era apenas de 24% da verba aprovada no Orçamento de Estado, ou seja, 220 milhões de um total previsto de 914 milhões de euros. O que faz prever que no final do ano cerca de 600 milhões serão retidos e não investidos, indo para o excedente orçamental do Ministério das Finanças e para as chamadas contas certas, a exemplo do que já tem acontecido em anos anteriores.

Cerca de metade do proposto no Orçamento de Estado de 2024 para o S.N.S. será transferido para o sector privado (8 mil milhões de euros), confirmando a opção política de direita e neoliberal que está na origem da maioria dos problemas do S.N.S, que é a intenção de continuar a transferir responsabilidades e serviços para o negócio privado da saúde.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.