Acabei de enviar ao Público o texto reproduzido a seguir. Aposto dobrado contra singelo em como vai parar ao cesto...
Eclesiastes
No passado dia 18, o Público dedicou meia página a um
exercício de ironia, estilo superior, como sabemos, mas que nem todos os
mortais esgrimem com maestria. Facilmente se resvala para campos lamentáveis
como a demagogia ou o mau gosto. O autor do artigo, oficial piloto aviador, voou
longe, alto de mais, e despenhou-se num lodo de incompreensão e intolerância que
já se pensava ter sido banido. Pegou no caso da alegada fuga (estariam presos?)
de uma família de refugiados sírios, acolhida em Mangualde, e, sem qualquer
curiosidade em escrutinar os motivos que os possam ter levado a alijar as boas
condições de vida que se lhes proporcionavam, passou a zurzir, sub-repticiamente
(como convém), na generalidade dos refugiados que deambulam por essa Europa,
negando-lhes mesmo o direito de dizerem uma palavra sobre o destino que almejam.
Qual escuteiro que obriga a velhinha a atravessar a rua para o lado que ela não
quer, o oficial “sabe” melhor que os sírios o que lhes interessa. Vai daí, os
refugiados são uns ingratos – e, neste capítulo, a estes não se lhes elogia o
silêncio, se é que o podiam quebrar dentro das suas legítimas possibilidades - e
os que lhes dão a mão não passam de tolos, coisa que, ficámos a saber pelo Eclesiastes,
existe por aí em número infinito, incluindo “presidentes da República e do Conselho”(?)
. Há coisas que ultrapassam o direito de opinião e esta parece-me ser uma
delas. Mas não nego alguns lucros ao aviador Brandão Ferreira: ganhou um
leitor. Nunca mais perderei um texto seu. É que não é só com a qualidade que se
aprende. Às vezes, também com a falta dela.
Não sou leitor do jornal do senhor Belmiro. Não sei se o amigo José Rodrigues ganhou a aposta. Se a ganhou,aqui está um exemplo do pluralismo do referido jornal. Infelizmente, não é o único assim.
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