A dívida e a dúvida
Ou os responsáveis pela
orientação do país (governação a todos
os níveis) andam distraídos há muito, ou são mesmo incompetentes e
irresponsáveis.
Se a dívida soberana, ou seja a
que está directamente integrada no sistema de contabilidade que controla o OE é
de 133% e a dívida global do Estado, onde estão inseridas as dívidas das
empresas públicas e de instituições
estatais que estão comprometidas com os
governos, segundo Miguel Sousa Tavares, atinge 230% do PIB, como é possível não
entender que o problema da dívida é mais importante do momento. Se a dívida é
duplamente superior ao PIB e o crescimento anual deste é inferior aos encargos
dos juros a pagar pelos empréstimos, logicamente que a dívida, que já é
impagável, vai tornar-se astronómica e, mais dia menos dia, quando os credores
deixarem de confiar, fica impagável e fora do controlo.
O monstruoso problema dos juros
da dívida, a pagar anualmente, e de tal forma vultuosos que para os suportar
ainda nos empenhamos mais, parece ignorado ou escondido atrás de um biombo. O
Governo, para se manter, tem de fazer algumas concessões ao BE e ao PC, que num
rumo populista, temperado com alguma acefalia, entende que quantos menos dias
se trabalhar neste país, mais riqueza social se produzirá para distribuir. Sem
se aperceber das situações reais, porque estes palradores não trabalham nem
conhecem os espaços onde este se realiza, espaços esses ocupados em 90 % por
pequenas e médias empresas, atiram com reivindicações nem sempre de acordo com
as possibilidades do pequeno patrão e dos trabalhadores. As pequenas empresas
vão fechando e algumas, com grande dificuldade, vão resistindo, pois, os
impostos e as taxas asfixiam o seu normal movimento. Estamos num mercado
competitivo e só quem apresenta o produto ao melhor preço o consegue colocar.
E, arranjem-se os estratagemas e explicações plausíveis para tudo e para nada,
na cadeia de produção, é sempre o consumidor final que paga toda a factura.
As empresas que não têm
monopólios que lhes garanta os preços de venda dos serviços, estando em
concorrência, têm de suportar encargos que nem sempre lhes é possível encarecer
no produto. Se tal suceder, entram em dificuldade e, nalguns casos, vão à
falência, situações que sucedem todos os dias. Os pequenos comerciantes e
artesãos, todos agora crismados de empresários, aparecem e desaparecem, como
cogumelos, todos os dias e em qualquer lugar. As empresas monopolistas, de mãos
dadas com os Governos, têm autoestradas para desenvolver a sua actuação e
aceitam melhor as alterações de taxas e impostos, porque serão recompensadas
nos réditos.
Os empregos são cada vez mais
precários, porque a própria precaridade de muitas empresas a isso obriga e
intenções ou leis não resolvem os problemas. Os resultados da diminuição de
desempregados inscritos no INEST, não levam em conta cerca de 10.000
trabalhadores que em média emigram mensalmente.
É preciso encarar com realismo,
honestidade e competência a real situação do país, onde a dívida é um, se não,
o principal obstáculo ao crescimento económico. Se assim não for, andamos
fardados de D. Quixote por mais algum tempo até que a realidade se sobreponha.
A dívida é dívida, não é dúvida!
Joaquim
Carreira Tapadinhas, Montijo BI 9613, TM 96 235 48 23 – jcatapadinhas@gmail.co