Neste país/mundo em que vivemos, cada vez mais desumanizado, comandado por mercados e agências de rating sem rosto, já quase ninguém se admira das enormidades que nos entram pela casa a dentro diariamente, apesar de muitas delas serem de uma violência, física e psicológica devastadoras e me parecer ser quase impossível ignorar.
Pessoalmente incomodam-me, sobretudo se foram notícias que tenham a ver com crianças e idosos.
Incomodam-me, tiram-me o sono e o apetite, consomem-me a alma e revoltam-me e talvez por isso não consiga ficar calada.
O Homem que morreu de frio dentro da sua casa tinha um nome - Manuel, o nome do meu pai; ainda não tinha 70 anos, mas parecia ter mais porque o sofrimento, a fome e a miséria deixam marcas fundas como cicatrizes.
Casos como estes demonstram de forma exemplar o quanto a nossa sociedade está doente e como a inversão de valores que nos regulam a vida e o ser nos está a transformar em pequenos monstrinhos desprovidos de emotividade e de afectos.
Pessoalmente não posso aceitar que coisas destas se passem todos os dias e que isso seja considerado normal, ou uma das contingências das dificuldades da vida.
Não posso e não quero deixar que casos destes sejam apenas notícia de abertura de telejornais e que os privilegiados que têm casa e jantar para comer continuem a fazê-lo sem que comida se lhes enrole na boca, como se estivessem a ver a Casa dos Segredos em versão macabra.
Quando vejo coisas destas na supostamente "desenvolvida Europa" de que fazemos parte, e que gira em torno da materialidade e do consumo, fico cada vez mais com a certeza que temos tanto a aprender com alguns povos ditos subdesenvolvidos, onde a idade é reverenciada e considerada o cerne da cultura, dos afectos, da cidadania e da organização social.
Descansa em Paz Manuel - desta vez lembraram-se de ti - pena que tenha sido demasiado tarde.
Feliz Natal minha gente.
Graça
A Graça tem a felicidade de ser uma pessoa sensível aos sofrimentos dos seus semelhantes e, se isso a faz sofrer, faz dela um ser com a dignidade suficiente para merecer ter vivido. É bom ter a consciência de que pudemos, ainda que com aparentes pequenos gestos, contribuir para um mundo mais justo. Manuel, também era um nome de Jesus (Jesus Emanuel), também é o nome do meu irmão e do meu filho (Mário Manuel) e por isso também me diz muito como nome. Um BOM NATAL para a Graça e toda a sua família, assim como desejo a todos as pessoas de boa vontade.
ResponderEliminarMuito obrigada pela atenção. O meu pai também se chamava Manuel e tenho muita dificuldade em lidar com este tipo de sofrimento - o ser humano decepciona-me com frequência e esta foi apenas mais uma dessas vezes. Um feliz Natal para si e família caro Joaquim.
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