Há pessoas que gostam de escrever mensagens em grandes superfícies, em todo o lado: muros, fachadas de edifícios, pontes. São mensagens anónimas para
destinatários desconhecidos.
Ás vezes têm nome no final, um nome próprio,nada mais. São geralmente
frases de intervenção, de amor, ou de ódio.
As primeiras são inflamadas, rispidas, ou então de ironia
corrosiva. São geralmente muito criativas, levando a desconfiar seriamente não
terem sido escritas por nenhum politico de serviço.
As de Amor, como todo o Amor, são dengosas, esperguiçadas,
quentes, animam as batidas dos corações e relampejam nalguns, cenas antigas,
paixões passadas.
As últimas, são mal-dispostas, vingativas, irreversíveis.
Algumas dessas missivas fazem-se acompanhar de uma figura
pintada, ou então de um símbolo, que terá o seu código, nem sempre decifrável.
Algumas mesmo, não passam de uma única palavra solta.
Muitas destas palavras ou frases são um alento que quebra
momentaneamente a concentração de cada um nas coisas suas. Acontece quando se relança
o olhar e se dá de caras com elas,num semáforo, numa fila automóvel, encostado
a uma paragem de autocarro.
Um respingador destas frases e destas palavras, juntando-as as
mais que puder, faria um manual da existência humana, onde caberiam todas as
filosofias, as religiões por junto,as teorias dos comportamentos e as ciências
sociais.
Elas dizem tudo e estão espalhadas por aí, à mão de semear.
Há uma que eu gosto particularmente. É das mais completas e só
ela encheria um dicionário todinho de sinónimos, podendo levar a meditações
profundas e muita ginástica intelectual.
Mas é de uma simplicidade que enternece:
POESIA-ME.
Se quiser partilhar connosco – não vai ganhar améns nem lugares
no paraíso – diga-nos as que gosta mais. Quando sair à rua, abra bem os olhos, esteja atento, não se
deixe distrair.
Precisamos de si
perspicaz: caçador de boas frases
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