terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Atendimento prioritário

Num país civilizado, o Decreto-lei n.º 58/2016 não teria razão de existir. É lamentável que haja indivíduos que só sendo obrigados cedam o seu lugar a quem precise. Claro está que nesse mesmo país não será estranho que apareçam os chicos-espertos que se valem precisamente dessa lei para passarem à frente de todos. Já tinha ouvido falar de quem vai para a Loja do Cidadão com crianças de colo alugadas, outros que arranjam umas canadianas para se fazerem de deficientes, etc. Mas o caso que vou relatar, dois em um para ser mais preciso, tive a oportunidade de presenciar neste fim-de-semana, quando me encontrava na fila única com mais de vinte clientes num hipermercado. De repente, um casal com o seu rebento todo traquina aproximou-se. O indivíduo, que presumo ser o progenitor, pega na criança ao colo e avança para a primeira caixa de vago. Já com as compras pagas, e para espanto de todos, coloca o pimpolho no compartimento apropriado do carro, lançando-nos um sorriso de gozo. Um idoso, por sinal deficiente que se encontrava na fila, protestou, chamando-lhe a atenção que, se tivesse transportado a criança no carro, não teria tido o direito de ir à frente de todos, esclarecendo-o que ele próprio, como deficiente, estava na fila a aguardar a sua vez, pois entendia não se valer de tal circunstância. Claro está que o indivíduo respondeu com palavras obscenas e acrescentou: se não fosses um velho, dava-te um murro. Ora como a lei prevê coimas para quem não respeite a lei, não devia também o legislador ter previsto casos como estes, e o tal decreto prever também coimas mas com valor a dobrar? Não será uma forma de educar quem usa tais métodos e não respeita o próximo? Jorge Morais
 
Publicada no Jornal PÚBLICO de 19.02.2017 e DN-M 21.02.2017

1 comentário:

  1. Fazer leis como estas é passar ao cidadão um atestado de menoridade, pois o respeito pelos outros, que deve recíproco, não necessita de ser legislado, porque deve fazer parte do carácter de cada um.

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