quarta-feira, 7 de março de 2018

Não faço nada! Compro tudo feito.

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Quem diz seguir o que acima está epigrafado, para mim, é o expoente máximo e mais bacoco do comportamento social de uma nação que se quer cada vez mais empreendedora e competitiva.
Mas, foi o que fizemos a partir dos anos 80 do século XX, quando entramos para a CEE – Comunidade Económica Europeia, hoje UE – União Europeia.
Com tanta efervescência, própria de um estado de embriaguez identitária, concentramos quase tudo em Lisboa e no Porto, abandonando o resto do território.
Assim, tal como mosquitos, atraídos pela luz cega da modernidade, abandonámos os campos, as indústrias, as pescas, os nossos saberes e sabores mais genuínos e concentramo-nos nas cidades.
Então, despedimos os artesãos do nosso Portugal laboral, enquanto os mestres alfaiates foram trocados pelo pronto-a-vestir das marcas estrangeiras, pois, diziam: só o que era de fora é que era bom.
As calças Levis não eram as nossas Miuras; os ténis Nike e Adidas não eram a nossa marca Sanjo; o refrigerante Seven Up não era a ‘mistela’ do nosso Pirolito.
Criámos um falso imaginário de progresso, travestido num misto de modernidade urbana, onde tudo que fosse português era coisa de gente pobre.
Por isso, acabamos com as mercearias de bairro e locais e tudo foi trocado pelas catedrais de consumo, numa visão urbano-pedantesca, transformando o mundo rural em lixeiras da nossa identidade colectiva.
Por tudo que foi dito, difícil será inverter ou conter sequer a incomportável dívida pública, a qual se aproxima cada vez mais do abismo.
Se não vivermos com o que produzimos e que de bom temos, estamos ‘feitos ao bife’, isto é, vai tudo ‘pró maneta’, como nas invasões francesas.

José Amaral


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