sexta-feira, 10 de maio de 2019


Apenas escroques, uns e outros!...


Nunca me passou pela cabeça emigrar, mas sou capaz de perceber as dificuldades de toda a ordem por que passam os que procuram ganhar a vida em terra estranha; mas nunca consegui perceber, por mais perversa que possa ser a natureza humana, que alguns dos que sofreram as agruras da exploração se transformassem, se o acaso lhes permitisse, em crueis exploradores dos seus próprios compatriotas, como muitos casos tristes o vieram a comprovar ao longo dos séculos e ainda hoje se verificam com gente muito pobre e pouco instruída, agora levada daqui para explorações agrícolas em França e Espanha, com promessas de ganhos que nunca se cumprem.

Somos há séculos um país de emigrantes, que agora também recorre a mão-de-obra estrangeira para as tarefas que já poucos por cá  aceitam; e é tal a desregulação nesta matéria que permitimos a traficantes do pior a exploração infra-humana das necessidades que imigrantes oriundos de países muito pobres têm de recorrer à nossa oferta de trabalho.

Vêm para cá de forma ilegal, sem qualquer contrato nem garantias nenhumas de protecção, por serem extracomunitários, para trabalhos em regime de escravatura, alojados em caixotes pelos quais ainda são obrigados a pagar elevadas quantias, sem o menor conforto nem higiene; o que os patrões pagam, mesmo que fosse o que merecem, nunca lhes é entregue directamente, indo parar às mãos dos traficantes, que lhes dão o que querem, ou não lhes dão mesmo nada, como agora relata o JN, em mais um dos muitos casos que só nos deviam envergonhar.

Um desses escroques que traficam na imigração ilegal e vivia à custa do trabalho duro dos pobres imigrantes, a quem recusava entregar o que lhes era devido, perante a revolta destes recorreu aos amigos que tinha numa força policial que, em vez de se certificar das razões de quem protestava, e entregar o caso nas esferas competentes, tomaram o partido do patife e desataram a espancar aqueles que deviam proteger!...

Provavelmente serão julgados mas, se chegarem a ser condenados, as “penas” de brincadeira que costumam ser aplicadas não os inibirão de continuar o lucrativo e criminoso esquema, porque não há no país um programa decente para acolher estes estrangeiros, dos quais a economia bem precisa...


Amândio G. Martins



2 comentários:

  1. Como já disse, ontem, ao José Valdigem, percebo perfeitamente o que ambos dizem, mas não deixo de pensar, também, que esses escroques estão detidos e a ser ouvidos pela JUSTIÇA. Ou seja, o Estado de Direito está a funcionar. Bem ou mal, vamos a ver. Quanto ao programa de acolhimento, totalmente de acordo. Que me parece que até já há, no papel...

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  2. A verdade é que não se conhece nada que evite a exploração destes trabalhadores deslocados para longe das suas terras; o que se sabe do SEF é que vai ao encontro deles para lhes dizer que estão ilegais e expulsá-los, sabendo que estão a trabalhar no duro, não a cometer crimes; o que deveria acontecer era acompanhá-los desde o início, para verificar se estão a ser explorados, quanto tempo vão cá ficar, que contrato de trabalho é que os protege da bandidagem...

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