HIPOCRISIA E LEI DA SELVA
A revolução
técnico-científica tem feito maravilhas em todos os campos. Tem
facilitado tanto a vida que, através da medicina, até a tem
prolongado. Mas, por outro lado, a fome, a falta de água potável,
de saneamento básico e a morte causada por doenças curáveis tem
aumentado exponencialmente. Muitos milhões de seres humanos, vivem
em condições absolutamente intoleráveis porque nunca houve tanta
possibilidade de se produzirem alimentos.
Mas a sede de lucro
das multinacionais, fala mais alto. E é essa sede de lucro que leva à
degradação do ambiente e às alterações climáticas. Por exemplo,
através de extensíssimas e cada vez mais numerosas explorações
agrícolas intensivas.
Onde se tem avançado
também imenso, é na indústria do armamento, da morte.
Onde não se tem
avançado nada, até se tem regredido, é no humanismo. Nas relações
entre as pessoas. Sobretudo, entre os povos representados por
Estados.
Aí, impera a
hipocrisia, a sede de domínio, a lei da selva.
Não precisamos
repetir exemplos passados como o que deu origem às duas guerras
mundiais, à do Vietname, Afeganistão, Jugoslávia, Iraque, Líbia,
Síria. Basta analisarmos mesmo resumidamente a da Ucrânia e o que
se passa na Palestina, sobretudo na Faixa de Gaza. Que, ao contrário
da primeira, aquilo não é uma guerra. É mais um massacre, um
genocídio, uma limpeza étnica que visa matar ou correr com aquele
povo. E na Cisjordânia, através dos colonos israelitas.
Segundo as
autoridades palestinianas, só nos primeiros 30 dias de
bombardeamentos, as forças ocupantes que denominam pelo eufemismo de
Forças de Defesa de Israel, lançaram contra a Faixa de Gaza à
volta de 30 mil toneladas de bombas, 82 toneladas por quilómetro
quadrado. 5O% dos edifícios foram danificados, 10% ficaram
totalmente destruídos e dos 2,3 milhões de habitantes, 1,6 milhões
(70%) foram obrigados a sair das suas casas. Depois foi a imensa
vergonha do ataque a hospitais. Dos 10 mil mortos até então, 4000
eram crianças e 2550 mulheres.
Claro que todas as
vítimas são condenáveis! Mas lembrar o que disse António
Guterres: “o crime contra civis israelitas, não veio do nada”.
Veio de 75 anos de ocupação, de mortes, de prisões, de humilhação.
Os Hamas, formam-se assim.
Quanto à guerra na
Ucrânia, lembrar só que a sua origem, esteve na recusa da vontade
da população russófona do Donbass pelo direito à
autodeterminação, afogada num banho de sangue e depois com a recusa
dos Acordos de Minsk.
O conflito na
Ucrânia e o genocídio na Palestina, contam com o apoio dos
hipocritamente arvorados defensores da democracia e dos direitos
humanos, os EUA, e com a submissa União Europeia, atrelada.
Ao vergonhoso
genocídio de Gaza, Netanyahu, com as costas quentes pelos referidos
aliados, continua a fazer ouvidos de mercador aos apelos do
Secretário-Geral da ONU, das resoluções da sua Assembleia Geral,
da Organização Mundial da Saúde, do Papa, dos milhões que se
manifestam por todo o mundo. O que conta é a lei do mais forte. A
lei da selva.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal "O SETUBALENSE"