Quando a forma desacredita o fundo...
Candidato às próximas eleições presidenciais, como já tinha sido nas anteriores, o senhor Vitorino Silva, calceteiro de profissão, será seguramente o que menos qualificações académicas apresenta no currículo, mas nem por isso tem deixado de “embaraçar” os restantes concorrentes; e ocorre-me uma velha crónica de Joaquim Letria, que contava ter ouvido este diálogo a dois calceteiros, cujo trabalho observava atentamente, sem que eles se apercebessem que estavam a ser “admirados”, tão absorvidos estavam no que faziam: “Ó Manel, tu achas que os políticos saberão todos ler e escrever?”; ao que o outro respondeu: “Hão-de ser como nós, uns saberão, outros não”.
E este calceteiro, que até já foi presidente da Junta da sua Freguesia de Rans, no Concelho de Penafiel - experiência que teria feito muito bem aos demais candidatos - parece ir para os debates com o mesmo espírito daquele seu colega que perguntava, criando em muitos comentadores, dos mais diversos media, a melhor das impressões, deixando bem para trás o que muitos deles disseram, quando há muitos anos o viram discursar num congresso do PS, em que rematou a perlenga que lhe foi permitida com estas palavras dirigidas ao local onde se encontravam os altos “dignitários” do partido, entre os quais pontificava o primeiro-ministro de Portugal: “E agora vou cumprimentar o meu amigo Guterres, porque eu mereço”!
Alguém dizia que a forma não é um mero vestuário do fundo, e a forma como alguns candidatos se tratam nos debates desacredita-lhes completamente o fundo do que pretendem transmitir; e o calceteiro Vitorino terá dado uma “lição” ao Ventura, merecendo citações de admiração e respeito, algo que este não terá o prazer de saborear nem daqueles que lhe darão o voto, que certamente o farão apenas motivados por obscuros interesses, aproveitando a sua apetência para fabricar grandes circunstâncias com pequenos acontecimentos...
Amândio G. Martins
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