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domingo, 3 de janeiro de 2021
«tecedeira de anjos» e o vírus
No romance «O Crime do Padre Amaro» (os crimes…), escrito no último quarto do século XIX, já na parte final, quando se procura ama para a criança filha do padre e Amélia, Eça de Queirós inclui a «tecedeira de anjos», explicado por Dionísia ao Padre Amaro: «eram mulheres que recebiam crianças a criar em casa. E sem excepção as crianças morriam… como tinha havido uma muito conhecida que era tecedeira, e as criancinhas iam para o Céu… daí é que vinha o nome»
.
Essa preocupação sobre crianças não desejadas e fruto de relações consideradas ilegítimas, nomeadamente de membros da burguesia e do clero, era resolvida com o recurso a amas. O Padre Amaro, primeiro hesitante e depois arrependido, entregou a criança à «tecedeira de anjos» Carlota, que posteriormente lhe comunicaria: «…Ontem mesmo, duas horas depois de ter chegado… O pobre anjinho começa a fazer-se roxo, e ali me morreu debaixo dos olhos…».
O vírus (covid 19) acaba por ser ma espécie de «tecedeira de idosos», ao corresponder à preocupação sobre riscos para a economia e negócios globais, manifestada por responsáveis e executivos do sistema capitalista, devido ao peso significativo que o número de idosos passou a ter na população mundial, face ao contínuo aumento da esperança média de vida, acompanhada também, em alguns casos, pela diminuição do número de nascimentos.
Passou pouco mais de 80 anos, desde os acontecimentos romanceados por Eça de Queirós, no «Crime do Padre Amaro», até à chegada da pílula contraceptiva a Portugal, como forma mais eficaz de evitar a gravidez e o nascimento de crianças não desejadas.
Demorou menos de 12 meses, a chegar a vacina contra o vírus (covid 19). Esperemos que seja tão eficiente como a pílula.
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