segunda-feira, 22 de março de 2021

O lado "bom" da pandemia

 

Diz quem sabe que, no aperto de mão, se revela muito do que a pessoa é realmente, para lá da estima e respeito que possa merecer a pessoa a quem se aperta a mão; e concordo inteiramente, tanto mais quanto o pude comprovar largamente ao longo da vida.

 

De facto, sobretudo por força de uma actividade profissional que me obrigava a contactar muita gente, apertei muitas mãos que me deixavam enojado; e houve decerto situações em que, apesar do meu traquejo profissional, não consegui disfarçar a repulsa que me causava sentir que ao meu aperto firme correspondia uma mão displicente, mole e peganhenta, com o seu "dono" olhando para o lado ao mesmo tempo.

 

E não me repugnava que estivesse suja do trabalho que a pessoa andasse a fazer, ou sabe-se lá do quê mais, como aquele situação que um radialista brasileiro certo dia contou com graça no seu programa: um casalinho de namorados, depois de largo tempo “enroscado” no andar de cima, foi chamado pela mãe da moça para o lanchinho que tinha preparado; devorando com apetite os bolinhos, o rapaz decidiu elogiar a “sogrinha” desta forma: “Seus bolinhos de bacalhau, D. Mariquinha, são uma delícia”... A senhora, depois de uns segundos a olhar para o sujeito, ter-lhe-á respondido nestes termos: “Que bolinhos de bacalhau?! Vá já lavar essas mãos, seu porco”!

 

Se é que esta coisa que vem atrapalhando todo mundo pode ter algum lado bom, talvez seja este de nos desobrigar de apertar qualquer mão que se nos estenda despida do verdadeiro significado que deve ter esse gesto.

 

 

Amândio G. Martins

 

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