Mais uma vez o calendário apresenta o dia 10 de junho, em Portugal, assinalando a data comemorativa da querida Língua Portuguesa – culta, bela, imortal, sempre unindo duas grandes nações: a lusitana e a brasileira que se irmanam com as africanas e até com povos do extremo Oriente.
Segundo o escritor brasileiro Coelho Neto, “Portugal e Brasil” são duas capas de um mesmo livro, unidas pelo verde oceano, contendo o mesmo poema, que é a bíblia vernácula dos dois povos – e esse poema não é outro senão “Os Lusíadas” – proclamado por Fidelino de Figueiredo como o hino triunfal da Renascença.
Enquanto Portugal cultua a língua pátria na data que marca o quarto centenário do falecimento de seu maior astro literário, o grande poeta Camões, o Brasil celebra-a em 10 de novembro, recordando o nascimento de seu extraordinário cultor, o jurista Rui Barbosa.
Em face da sua grande complexidade, que a torna de muito difícil aprendizagem, deveria ser objeto de uma simplificação, através de um racional entendimento luso-brasileiro.
Tornei-me um modesto professor dela influenciado por grandes mestres que tive, entre os quais um ilustre português que, ainda jovem, deixou seu torrão natal, a bela cidade litorânea de Figueira da Foz, e veio para o Brasil, onde, em Araguari, Estado de Minas Gerais, exerceu o magistério. Foi o saudoso professor Hermenegildo Marques Veloso.
Lembro-me também de Carlos de Campos, com sua rigorosa exigência de, através da redação, avaliar a prática dos conhecimentos gramaticais ensinados, e de Baltazar dos Reis, com a sua grande simplicidade de ensinar as complicadas questões de análise sintática. Ambos de saudosa memória.
Finalmente, jamais poderia ficar esquecido aquele que me proporcionou o aprendizado da arte literária, despertando em mim não só a aptidão para ensinar a teoria da Literatura, mas também para a iniciativa de escrever versos. Trata-se do renomado escritor e magistral poeta Gilberto Mendonça Teles, nascido no Estado de Goiás, projetou-se pelo Brasil afora e até internacionalmente, residindo na atualidade, na cidade do Rio de Janeiro, que nunca deixou de ser a capital brasileira da cultura. No próximo dia 30 de junho vai completar 90 anos de idade e continua lúcido e operoso, com uma produção literária jamais vista. É bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás; diplomado em Letras Neolatinas pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Goiás; Doutor em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; titular de Cursos de Especialização em Língua Portuguesa (1965) pela Universidade de Coimbra-Portugal; Prof. Emérito-Titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e da Universidade Federal de Goiás; Prof. da Pontifícia Universidade Católica de Goiás; Prof. Honoris Causa da Universidade Federal do Estado do Ceará e Prof. de Literatura Brasileira do Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro, de Montevidéu, capital do Uruguai. Foi diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Federal de Goiás, fechado pela ditadura do regime militar. É Professor Catedrático Visitante da Universidade de Lisboa, Portugal e da Universidade de Salamanca, Espanha.
É membro da Academia Goiana de Letras; da Academia Carioca de Letras; da Academia Brasileira de Filologia, da Academia Brasileira de Filosofia; da Academia Luso-Brasileira de Letras; Sócio Correspondente/Efetivo da Academia de Ciências de Lisboa e possuidor de Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique, outorgada pelo governo português em 1987.
É autor de 19 livros de poesias e de 03 volumosos reunindo poemas selecionados constantes de publicações anteriores. Como ensaísta e crítico literário, além de um grande número de trabalhos em colaboração, produziu cerca de 20 obras, entre as quais “Camões e a Poesia Brasileira” e o “Mito Camoniano na Língua Portuguesa”, Porto (Portugal) – 2012, Universidade Fernando Pessoa.
Na quadra inicial de seu poema “Logradouros” (Livro ¨Plural das Nuvens¨), demonstra a preferência das aves pela praça de um poeta. Através de interessantes indagações, apresenta o contraste entre o "Chiado", com a estátua de Camões tão cheia de pombos e a inexistência destes na "Marquês de Pombal", demonstrando com isto que a memória nobiliárquica do famoso estadista, considerado pela História como um déspota esclarecido, se ofusca diante da glória do grande Poeta.
Em "Mitofagia" (do mesmo livro) com um soneto inicial e outro no fim, ambos decassílabos, intermediados por um longo poema de cordel, também com versos decassílabos, criticando a rebelião militar de 31 de março de 1964 no Brasil, o poeta alude às controvertidas opiniões, segundo as quais, num processo reencarnatório, teria sido alguns reis portugueses, mas, na realidade, afirma não saber se é Gilberto ou Camongo ( pseudônimo com o significado de Camões do Estado de Goiás, que chancela o citado poema). Eis alguns de seus versos:
Há quem diga que fui o D.João IV
ou o presidente-rei SIdônio Pais;
há tanta controvérsia que reparto
minhas reencarnações e meus sinais.
Sei que sou desejado (o indiscoberto
que se infiltrou nas raças e nas roças);
não sei se sou Camongo ou Gilberto
sei que as minhas saudades são as vossas.
Na forma de um Saci eu li num texto
que sou quem foi e sumiu na guerra,
mas há quem me vê logo um D. João VI
fazendo as malas e deixando a terra.
Vivaldo Jorge de Araújo
Goiânia - Goiás - Brasil
10 de junho de 2021
É-me sempre muito agradável ler o que escrevem o senhor e o seu irmão, mas parece-me que as renomadas figuras da cultura brasileira que cita não estarão a ser continuadas por outras do mesmo gabarito...
ResponderEliminarPrezado Gorgias
EliminarMeus agradecimentos pelo seu comentário.
O engenheiro, economista, professor e escritor de extensa obra literária, Jefferson Bueno, me solicitou a publicação de seu comentário sobre este artigo:
ResponderEliminar“Li e reli, com interesse e carinho, mais um artigo sobre a Língua Portuguesa desta mente pura e brilhante do procurador de justiça, escritor e professor Vivaldo Jorge de Araújo. Tudo que emana destes cérebros privilegiados dos irmãos Vivaldo e do engenheiro, professor de cálculo estrutural e advogado Orivaldo Jorge de Araujo, são artigos que trazem especial interesse tanto humanístico, quanto científico e literário. Vivaldo é um ser humano muito especial, uma alma verdadeiramente pura e mais voltado para temas do universo da espiritualidade, sem desprezar o mundo material, dominado por interesses geopolíticos e econômicos.
Vivaldo sensível à pandemia da Covid-19 que assola o mundo, tira de sua privilegiada inteligência tempo para dedicar-se a nossa Língua Portuguesa, em dia tão especial em que comemora os quatrocentos anos da morte de Camões- seu mais brilhante vulto e autor da mais importante e extraordinária obra de nossa Língua
Aborda Gilberto Mendonça Teles, o insigne poeta e professor goiano, cuja influência na formação literária da nossa juventude foi imensa, tanto no Brasil como no exterior”.
Orivaldo Jorge de Araújo
Goiânia-Goiás-Brasil
Em 14 de junho 2021
Peço desculpa por só hoje aqui vir com a dúvida que me assaltou, bem como pela possível impertinência da mesma.
ResponderEliminarNo texto inicial, o procurador de justiça, escritor e professor Vivaldo Jorge de Araújo alude ao “quarto centenário do falecimento de seu maior astro literário, o grande poeta Camões”. No comentário ao mesmo texto, o engenheiro, professor de cálculo estrutural e advogado Orivaldo Jorge de Araujo, citando o engenheiro, economista, professor e escritor de extensa obra literária, Jefferson Bueno, fala-nos do “dia tão especial em que comemora os quatrocentos anos da morte de Camões”.
Resta-me acrescentar que o post em questão foi publicado no dia 10 de Junho, data comummente aceite como a da morte de Camões, por volta de 1580, embora se suscitem algumas reservas. Só que estamos em 2021 e, por mais voltas que dê à cabeça, não consigo ver a aritmética da coisa. Alguém me elucida sobre o quê e onde é que eu li mal?
Prezado José Rodrigues
EliminarAgradeço o seu comentário, que para mim é sempre muito bem-vindo
O objetivo do texto não é senão enaltecer esta data comemorativa, que teve o seu nascedouro nas comemorações do quarto centenário da morte de Camões, oficializada por Lei de 10 de junho de 1981, segundo informações que tenho.
Embora o objeto do texto não seja de quantificar os anos que se passaram de sua morte, a operação é muito elementar: 2021-1580=441
É a sina de quem escreve: para ele é muito claro, para quem os lê suscita dúvidas. Por isso estou pedindo desculpa para os leitores, em especial ao autor do comentário que te antecedeu, por ter sido induzido a levar para o presente o que ocorreu 1980, embora ainda esteja na faixa dos quatro, pois, o quinto centenário só ocorrerá em 2080.
Espero ter contribuído
Caro Vivaldo de Araújo,
EliminarSe me permite o preciosismo, deixe-me dizer que, tanto quanto sei, não existe nenhuma lei de 10 de Junho de 1980 sobre o assunto. Julgo também saber que, em 1880, se comemorou o terceiro centenário da morte de Camões. Com o advento da República, o 10 de Junho passou a ser feriado municipal em Lisboa, a partir de 1911.
Depois de 1925, esse dia passou a ser designado como Festa de Portugal, sendo feriado nacional a partir de 1929.
Em 1952, ainda em pleno Estado Novo (fascista), passou a nomear-se Dia de Portugal.
Após a Revolução do 25 de Abril de 1974, já em 1977, a data passou a Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Finalmente, em 1978, pelo Decreto-Lei nº 39-B/78, de 2 de Março, a data passou a ser referida oficialmente como Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, designação que se manteve até aos dias de hoje.
Espero também ter contribuído para o esclarecimento geral.
Dileto José Rodrigues
EliminarDiante de seu grau de detalhamento, só me resta agradecer-lhe pelas preciosas informações oferecidas, não só a mim, mas para toda comunidade do blog,
Apenas em caráter informativo, longe de qualquer polêmica, minhas conclusões foram baseadas no site:
https://www.sistemadeensinoph.com.br/blog/10-de-junho-dia-da-lingua-portuguesa/
Que diz textualmente:
“A comemoração do Dia da Língua Portuguesa em 10 de junho foi instituída pelo órgão legislativo do Estado Português em 1981”.
Este site foi localizado pelo Google. Não é por acaso que no Brasil este famoso aplicativo de pesquisa, seja conhecido jocosamente por “Pai dos Burros”.
Abraços!