quarta-feira, 9 de junho de 2021

Taras e manias

 

Ridicularizar o culto da personalidade é um exercício que sempre me diverte, pese embora o personagem que alimenta esse culto já seja suficientemente ridículo, e uma coisa com que cá em casa “embirro” é ver expostas fotos das pessoas que estão presentes; de facto, se até posso ver as queridas figuras em carne e osso – muito mais carne que osso, diga-se – que sentido fará terem as suas fotos por todos os cantos da casa, atravancando móveis e paredes; no entanto, estimo ter as fotos daqueles que já partiram, ou dos que, ainda por cá andando, raramente posso ter o prazer de ver em pessoa, por estarem distantes.

 

Mas, enfim, coisinhas com que o ser humano se ludibria a si próprio são aquelas com que mais nos deparamos; houve um tempo em que, sempre que fosse preciso renovar documentos, eram exigidas fotos actualizadas -  que os fotógrafos, manhosos, faziam questão de carimbá-las todas com a data – e como não faziam a coisa por menos de um certo número, mesmo que só fosse preciso uma ou duas, ficávamos com as restantes para arrumar numa qualquer gaveta; e foi assim que, um dia destes, fui encontrar as que me foram retratando ao longo do tempo, cuja observação não serviu para melhor que confirmar o que foi sendo a minha decrepitude, como se eu precisasse disso...

 

 

Amândio G. Martins

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