sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Da superioridade presumida

 

Estávamos no início da década de setenta, em pleno “prec”, e um “mercedes” ainda conferia ao seu detentor, sobretudo àqueles com formação deficiente, e era o que não faltava, a falsa ideia de superioridade.

 

Encontrava-me em Santo Tirso e recebi uma chamada para ir a Lousado, V.N. de Famalicão, tratar um assunto de serviço. Desloquei-me para lá por uma estradinha na margem esquerda do Ave, no fim da qual se atravessava por uma daquelas pontes que fazem no meio uma corcunda, não dando para ver, à entrada, se vem alguém do outro lado. Fui avançando, cheguei à tal “marreca” sem ver ninguém, e quando já ia na vertente para a saída entrou um dos tais possidónios, que avançou fazendo com as mãos gestos para eu recuar.

 

Fiquei a olhar para ele, estupefacto, até que ele foi ter comigo com ar provocador, perguntando-me se tinha muita pressa; respondi-lhe que estava em trabalho, e não me pagavam para ficar ali parado; então – respondeu o sujeito – terá de recuar para eu passar.

 

Só que chegou do meu lado mais um, daqueles calmeirões que não estão para muita conversa, quando a brincadeira lhes não agrada, que depois de perceber o que se passava, se dirigiu ao “bardamerda” nestes persuasivos termos: “Se você não tira já daí o chasso, pego-lhe pelo cu das calças e só pára no fundo do rio”!

 

E não foi preciso mais nada. A psicologia musculada foi tão eficaz que ao hominho lhe passou logo a arrogância possidónia, e ainda ficou com a humilhação de ver chamar “chasso” à máquina que tanta cagança lhe induzia...

 

Amândio G. Martins

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