terça-feira, 17 de maio de 2022

 

O PREÇO DA COERÊNCIA


Compreende-se que muita gente seja influenciada pela avassaladora campanha em curso contra o PCP pela sua posição em relação à guerra na Ucrânia, e agora reforçada com “o caso Setúbal”. Também se compreende que alguns, mais bem informados, aproveitem a onda para criticarem o partido que mais se bate pelos trabalhadores e pela paz. É o preço da sua coerência.

Apresentam a Ucrânia como um pais normal e democrático. Um país, cujo Governo ilegaliza partidos políticos que não lhe agradem (onze), o Partido Comunista, já estava antes das últimas eleições. Um país onde nazis desfilam de mão estendida e cometem crimes impunes tão hediondos como o da Casa dos Sindicatos de Odessa, em que 40 pessoas encurraladas são vítimas de bombas incendiárias, umas morrem queimadas, outras saltam pelas janelas ou tentam fugir e são abatidas a tiro. Um país que incorpora essa gente nas suas forças armadas como o tristemente Batalhão Azov e provavelmente não só. Um país que reprime populações russófonas de regiões que pretendem a sua auto-determinação como é a região do Dombass. Onde, antes da invasão, já havia 15 mil mortos.

Um país com estas característica e provavelmente com outras menos conhecidas tão “normais e democráticas” como estas, é um país democrático e normal, como a comunicação social dominante e os críticos do PCP, o “vendem”?

O maior país encostado à Rússia, e a crucial questão do avanço da NATO para junto das suas fronteiras, onde ele se inclui, evidentemente.

Os que nada fizeram contra os desmandos acima citados, antes pelo contrário, apoiaram-nos. Assim como apoiam a continuação da guerra com o confessado objetivo de desgastarem ao máximo a Rússia. O que os move contra o PCP, o partido que coerentemente, desde sempre e mais agora, reclama o fim da guerra, é o facto de não condenar apenas a Rússia pela invasão, mas quem lhe deu todos os pretextos: EUA/NATO/UE.

Em relação a Setúbal, cito João Oliveira na sua página do FB: “ Os refugiados ucranianos não terão todos as mesmas origens ou convicções. Não se pode excluir que existam entre os russófonos, independentistas, refratários, ou seja, homens que fugiram da lei marcial, recusando a incorporação obrigatória nas forças armadas e a ida para a guerra, entre outros. As obrigações do Estado Português não pode excluir nenhum deles.

A Câmara Municipal de Lisboa acaba de tomar uma decisão que deixa estes refugiados expostos a uma óbvia vulnerabilidade. Os dados pessoais destes refugiados (por exemplo, os refratários) e suas famílias podem agora estar à disposição da Embaixada da Ucrânia. O perigo é evidente.

Isto porque a Câmara Municipal decidiu atribuir a gestão do apoio aos refugiados em Lisboa, sem qualquer concurso, a uma associação (com conhecidas e assumidas posições nacionalistas) indicada pela Embaixada da Ucrânia. Desta vez, porém, não há manchetes bombásticas, nem comentários indignados, nem pedidos de investigação, nem moções de censura.

Quem responde pelas consequências desta decisão?”

Francisco Ramalho

Publicado hoje no jornal "O Setubalense"





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