terça-feira, 12 de novembro de 2019

A minha G3

Lembrei-me dela agora, com a sua "morte" e o devido artigo no PÚBLICO de 10/Nov. - "G3, o adeus  à arma" - no caderno P2. Também tive uma, ou melhor, duas, que me foram fornecidas "religiosamente" com muitos avisos para que nunca as "largasse da vista". A primeira em Mafra, que devolvi após o primeiro ciclo de recruta e a segunda já na guerra colonial, no norte de Moçambique, que me acompanhou até ir para o hospital de Nampula, já somente como médico e sem precisar da "canhota" para me defender, embora ainda com galões de alferes nos ombros.
Da primeira recordo o tapa-chamas que me roubaram e que "recuperei", pagando, na "Feira da Ladra"em Lisboa, seguindo o conselho dum soldado que, suspeito, terá sido o "ladrão" que agora praticava a "boa acção" de rescaldo... A segunda, a mais necessária, recordo-a... porque não a tinha comigo! Era o 25 de Junho de 1974, data do aniversário da Frelimo (depois do 25 de Abril...) e esta atacou o nosso quartel com armas pesadas que facilitaram o "golpe de mão" com que se introduziram naquele. Quando "elas começaram a cantar", estávamos na "janta", pensei em ir buscar a G3 ao quarto onde dormia, mas o medo desorientado era tanto que "somente" corri para o abrigo onde, com mais vinte camaradas, "resistimos" ao barulho... com uma única arma e vinte balas no carregador! Depois de "rever a minha vida num minuto" ( é verdade, parece!) só saí para tratar dos feridos e mesmo assim com a querida ajuda do cabo enfermeiro (lindo Zé Luís!) que saiu primeiro e assim poderá ter-me salvo dum tiro que viesse saído duma "irmã gêmea" Kalachnikov.
Esta é a história da minha G3, que me salvou porque... não a fui buscar ao quarto onde "dormia"e a cuja parede exterior estavam encostados elementos da Frelimo que me teriam "caçado como um coelho" se o medo não me tivesse impedido de cumprir a regra militar de nunca a "largar de vista"...

Fernando Cardoso Rodrigues

1 comentário:

  1. O "brinquedo" que me confiaram, no tempo em que, em 1967, estive numa "casa de acolhimento" em Vila Real,julgo que se chamava RI 13, era mesmo uma peça de museu, chamada "Mauser", e também vinha acompanhada da recomendação de nunca a largar, mesmo quando fosse à retrete; como a seguir transitei para as transmissões e nunca saí de cá, também não mais tive "direito" a uma arma à minha guarda, que as guardasse o diabo!...

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