Eu sei que hoje e amanhã as redes vão estar
"infestadas" de publicações da mais variada proveniência sobre o 25 de
Abril, a Revolução, os sonhos, as desilusões .
Não vou tecer considerações sobre isso, nem que fazer quaisquer juízos de
valor, em primeiro lugar porque não tenho esse direito e em segundo lugar
porque o que verdadeiramente me preocupa não é esta súbita febre democrática
que vai durar dois dias e como as viroses dos miúdos, ao fim do terceiro dia
está curada, esquecida e arrumada.
O que verdadeiramente me preocupa é saber que esta Europa
onde estamos inseridos, conseguiu a proeza de em dois anos, fazer aparecer mais
de 35 milhões de novos pobres.
Sabiam?
E o que me inquieta mesmo é a noção clara que tenho, cristalina como agua de
ribeiro em plena serra, que o aumento desmesurado das desigualdades e a
democracia são antagónicos e a Europa tem que rapidamente decidir o que
pretende - ser pobre, ou investir verdadeiramente nos valores que fazem as
democracias nascerem, crescerem e progredirem.
Esses valores são simples - justiça social, igualdade de
oportunidade, criação de riqueza, solidariedade ( não caridade ), ou se quiser
ser curta e grossa, que as Pessoas sejam tratadas como Pessoas, que sejam
consideradas a maior riqueza dos países e não um NIF, como são atualmente e que
a Dignidade tenha níveis equilibrados abaixo dos quais não podemos permitir que
se viva.
Enquanto forem as questões económicas e não as pessoas a
prioridade dos países europeus, a democracia, na sua essência estará condenada.
Temos o Brexit, temos a Turquia, temos a incerteza da
democracia francesa, com Marine de Pen e a Frente Nacional a serem a segunda
força mais votada na primeira volta daas presidenciais francesas; temos os
refugiados, os atentados e o medo.
Temos tudo para abrirmos os olhos, mas continuamos teimosamente
a não querer ver aquilo que diariamente nos entra olhos dentro.
Enquanto as Pessoas
valerem menos que o lucro e os jogos das economias, estaremos a assistir a uma
total inversão dos valores que estiveram na base da revolução de Abril.
Sem falar directamente de Abril e dos 43 anos que amanhã se
comemoram, acabei por lá parar.
Não direi que foram 43 anos perdidos, mas foram 43 anos muito desperdiçados e o
resultado está à vista - aumento da pobreza, aumento das assimetrias sociais,
aumento da hipocrisia, liberdade, apenas de pensamento e de expressão e mesmo
assim, vamos ver até quando...
Provavelmente até nós deixarmos...
Apesar de tudo, vale a pena recordar Abril, aprender Abril, interiorizar Abril
e mais importante que tudo Viver Abril...sempre e não apenas 2 dias por ano.
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Graça Costa
De todo o seu discurso, Graça, destaco o penúltimo parágrafo e retiro o provavelmente: até nós ( creio que não pôs o acento por lapso) deixarmos... E os 3 pontinhos estão aqui muito bem (mais 3)... Disse aqui outro dia que o capitalismo está aí para lavar e durar. Não há forças progressistas (anti-capitalistas) organizadas, nem de longe, suficientes para o apear.
ResponderEliminarObrigada pelo reparo - era mesmo um lapso que já corrigi.
ResponderEliminarConcordo consigo - não quis ser excessivamente pragmática, mas creio que terá razão.
Sobre as eleições francesas acabei de ler um artigo que amavelmente me enviaram por email e que me deixa ainda mais apreensiva sobre a política .
Deixo o link se quiserem dar-se ao trabalho de dar uma espreitadela.
https://www.facebook.com/notes/mario-ponti/macron-o-perfeito-iogurte/1448219975244879/.
Uma tarde feliz...se possível .