Vem esta carta a propósito de algumas ideias lançadas no artigo da bióloga Maria Amélia Martins-Loução, Público do dia 22 de abril, Dia Internacional do Planeta Terra, que "fica no esquecimento da maioria da população."
Um alerta para não nos esquecermos que, por exemplo, Portugal está em quarto lugar entre os países europeus com mais espécies em risco de extinção. "Se a preocupação [com os problemas ambientais] existe, falha a mudança de atitude". Agimos como se esses problemas estivessem «distantes», que fossem de outros , noutros lugares, etc.
Este tipo de problemas remete-me para um outro: o esquecimento das nossas «terras», lugares e populações (humanas) mais interiores. Passei o fim de semana no Alentejo. À chegada a Moura, deparámo-nos com os grandes cravos de papel, colocados na varanda da bonita biblioteca municipal, lembrando a Revolução. O visitante saberia também que, ali ao lado, nessa noite de derby, poderia ouvir Jorge Palma no Cine-Teatro Caridade. Almoçámos no restaurante «Chaminé» - comida deliciosa. Durante a tarde, visitámos o Museu Alberto Gordillo (joalharia contemporânea) dedicado ao ourives que ofereceu centenas de peças à sua terra natal. Vimos o derby na muito recomendável taberna do «Liberato», alentejano de gema que dá continuidade ao estabelecimento da família desde os anos 40... Se Moura tem muita vida, não podemos dizer o mesmo da vizinha vila de Mourão... aonde não íamos há mais de 15 anos. Voltámos de propósito para cumprimentar o engenheiro Joaquim e almoçar na sua «Adega Velha». Mas já não tínhamos lugar... As gentes do Alentejo, como os portugueses em geral, recebem muito bem!
No dia seguinte viemos «para cima», deixando para trás o exemplo de alguns portugueses que abdicaram, por opção, dos grandes centros urbanos como Lisboa, em busca de qualidade de vida e que a encontraram em Moura, por exemplo.
Mas nem tudo são cravos... Onde estão as pessoas? Muitas vilas portuguesas estão vazias; os edifícios abandonados e não há recursos financeiros por parte das autarquias para restauros. Temos uma riqueza patrimonial imensa, conventos e castelos belíssimos, que reclamam cuidados e cujas histórias têm que ser conhecidas por pais e filhos.
Não temos esquecido o 25 de Abril - ótimo. Mas mais importante que recordar o passado, é fazer algo pelo presente com a Liberdade que se conquistou!
Deixo uma sugestão aos professores de História, Geografia, Português, que organizem vistas de estudo a estes lugares. Porque não levar os nossos estudantes num passeio cultural pelo Alentejo e interior do país? Portugal não é apenas o Mosteiro dos Jerónimos ou Belém ou afins. Portugal é muito grande e belo, um Museu vivo de portas abertas todo o ano! Porque as pessoas merecem ser visitadas!
Sugiro ainda que se crie mais um dia: o Dia do Portugal a Não Esquecer.
Que o Portugal interior não se torne lugar de cegonhas, mais do que lugar de gente.
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