Há um surto epidémico de sarampo em Portugal. Hoje ouvi, na Antena 1, o DGS (Director Geral de Saúde) que insistiu ( e bem!) em duas coisas, uma decorrente da outra. A primeira é que estes surtos nascem de "bolsas" em que as pessoas não estão vacinadas, por erros culturais (económicos não são porque a vacina é gratuita e faz parte do PNV ( Plano Nacional de Vacinação), nomeadamente as crianças. E porque não estão? Por decisão errada dos pais. A segunda era o alerta do mesmo DGS, chamando atenção deste problema, e dizendo que será necessário os "políticos" começarem a pensar em "sancionar" aqueles pais pois eles não são "donos dos filhos" e há, com a disseminação, um problema de todos, de Saúde Pública.
Dito isto, agora vem a história. Pelos anos 80, exercia eu clínica privada e já existia a vacina, houve um surto similar ao actual, mas aquele mas muito mais grave pois prevaleceu nos "bairros de lata" de Lisboa.E, como as condições de higiene. habitacionais e de nutrição eram péssimas, houve muitas complicações secundárias e mortes. Quando vinha alguma criança ao meu consultório em idade de ser vacinada, aconselhava-a, colocando ênfase na eventual gravidade da situação, individualmente e, mais ainda, porque, não vacinando em massa, nunca mais se acabaria com a existência do sarampo, pela tal perpetuação das "bolsas" de reserva de vírus. Muitas vezes ouvi como resposta mais ou menos o seguinte: o meu filho tem "boa cama e boa mesa e não faz parte dos grupos de risco. Como fazia para tentar convencer aquelas mães? Com uma "maldade". A partir do diálogo, e durante o restante exame, só usava linguagem técnica, habitualmente "opaca" para a maior parte das pessoas. Era quando as senhoras (digo no feminino pois os pais homens vinham raramente) me pediam para explicar tudo outra vez pois tinham entendido pouco das minhas explicações e prescrições. Aproveitava eu então para lhes dizer que, se ali estavam, era porque em mim confiavam e essa confiança devia estender-se também aos conselhos vacinais. E lá explicava, por palavras simples, aquilo que já tinha feito em linguagem cifrada... Resultava? Umas vezes sim , outras não, como tudo na vida...
Fernando Cardoso Rodrigues
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