sábado, 10 de março de 2018

A dependência da comunicação social

Frequentemente me questiono porque faço parte das pessoas que perderam o hábito comprar jornais. E a resposta é invariavelmente a mesma: os jornais deixaram de ser dos leitores e passaram a ser das empresas que lá colocam a sua publicidade. E como as receitas dos jornais dependem maioritariamente da publicidade, e não dos jornais que se vendem, criou-se uma dependência que acaba por condicionar os conteúdos publicados. (e isto não acontece apenas nos jornais, mas em todos os órgãos de comunicação que necessitam da publicidade para a sua subsistência, através das receitas). Vejamos: se existe um conflito numa empresa que tem publicidade colocada num órgão de comunicação social, será que esse órgão – em determinada circunstâncias – não está condicionado nas perguntas que vai fazer e naquilo que publica, com isenção e imparcialidade? Tenho na memória um caso como algumas décadas, do qual todos nos lembramos: o abate de 600 sobreiros no concelho de Benavente, para que (no mesmo espaço) fosse construído um campo de golfe. Houve um semanário que publicou a notícia, e em consequência dessa publicação, toda a publicidade desse grupo financeiro/económico foi retirada do grupo a que pertencia o semanário. Após reunião dos presidentes dos dois grupos, a publicidade voltou, mas com uma garantia: os órgãos de comunicação daquele grupo não voltariam ao assunto. Recentemente, com a situação de poluição no rio Tejo, que todos vimos através das televisões, houve um canal que nada publicou sobre o assunto. Perguntei: porquê? É que existe um patrão comum, ao canal de televisão e à poluidora. Temos, por isso, de estar sempre atentos, porque nada acontece por acaso. Acabou-se a idade da inocência.

5 comentários:

  1. Em reforço da sua tese, com a qual estou totalmente de acordo, permita-me que refira um outro “caso” muito badalado à altura, em que um dos maiores bancos portugueses retirou completamente toda a publicidade a um dos nossos maiores jornais.
    Refiro ainda que, em minha opinião, além do interesse directo e poderoso dos anunciantes, que determina, muitas vezes, a orientação editorial dos órgãos de comunicação, há o interesse, menos visível, que os próprios “donos” desses órgãos têm na “formação ideológica” dos leitores, enquanto poderosos divulgadores subliminares das teorias que lhes aproveitam. Basta verificar que, na composição dos membros efectivos do Bloomberg, têm sempre assento todos os proprietários dos grandes grupos da comunicação social a nível planetário. Até Portugal, sendo pequenino, teve lá, até à sua saída recente (por motivos de idade?), o dr. Francisco Pinto Balsemão.

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  2. No meu comentário acima, quando quis dizer Bilderberg, não sei por que demónios, saiu-me Bloomberg. As minhas desculpas.

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  3. O Dr. Balsemão foi primeiro-ministro sendo mais proprietário do Expresso do que é hoje. Quando tomou posse, quem passou a Director do jornal foi Marcelo Rebelo de Sousa, que não poupava o Governo, de forma exagerada, na optica de Balsemão. Um dia, Marcelo foi chamado e ouve "mosquitos por cordas"; tentando apaziguar a coisa, Marcelo ter-se-á dirigido a Balsemão nos termos habituais, qualquer coisa como "Ó Chico, olha que não estás a ver bem o problema... - "Ó Chico não, para si é senhor primeiro-ministro"! E a verdade é que, se não andei distraído, eles ainda hoje não andam bem, pois nunca vi Balsemão junto de Marcelo candidato, e muito menos presidente. De facto, Marcelo presidente deve estar atravessado na goela de Balsemão...

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