Conversas de rapazes...
...”Nessa noite, uma noite quente e propícia a um convívo
tardio junto ao plátano, Felisberto partilhou as novidades, mas sem nunca
confessar o encontro com Beatriz. Pegou num pauzinho e desenhou na terra uma
planta da geografia vaginal, sem no entanto ter a certeza de a ranhura ser
vertical ou horizontal.
Henrique arregalava os olhos ao ouvir falar de esperma, de
vagina, de vulva, de clitóris; dava guinadas com o pescoço e ranhuzava que não
percebia a necessidade de tanta nominação se o importante era fornicar. – “Não
deves ter medo do conhecimento, são coisas que enriquecem a cultura do
indivíduo” – disse Augusto, cuja sensibilidade paroquial estranhamente não
parecia ofendida com o assunto.
Henrique é que não gostou de ser tratado por “indivíduo”; achava a palavra tão hostil
como “transeunte”ou “utente”. Mas Felisberto não deu tempo para confusões
linguísticas porque começou a falar do orgasmo das mulheres: -"Arroios diz que a
condição essencial para que uma mulher nunca nos largue é fazer com que tenha
orgasmo, porque os homens vêm-se depressa e elas nem chegam a aquecer; o método
dele é pensar nas guias do Fundo do Desemprego e o Vilhena diz o mesmo mas com
as classificações do futebol. Mas a verdade é que as mulheres têm clitóris, as
negras, por exemplo, têm-nos do tamanho de feijões”...
Nota – apontamento do livro anexo.
Amândio G. Martins
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