segunda-feira, 22 de outubro de 2018


Conversas de rapazes...


...”Nessa noite, uma noite quente e propícia a um convívo tardio junto ao plátano, Felisberto partilhou as novidades, mas sem nunca confessar o encontro com Beatriz. Pegou num pauzinho e desenhou na terra uma planta da geografia vaginal, sem no entanto ter a certeza de a ranhura ser vertical ou horizontal.

Henrique arregalava os olhos ao ouvir falar de esperma, de vagina, de vulva, de clitóris; dava guinadas com o pescoço e ranhuzava que não percebia a necessidade de tanta nominação se o importante era fornicar. – “Não deves ter medo do conhecimento, são coisas que enriquecem a cultura do indivíduo” – disse Augusto, cuja sensibilidade paroquial estranhamente não parecia ofendida com o assunto.

Henrique é que não gostou de ser tratado  por “indivíduo”; achava a palavra tão hostil como “transeunte”ou “utente”. Mas Felisberto não deu tempo para confusões linguísticas porque começou a falar do orgasmo das mulheres: -"Arroios diz que a condição essencial para que uma mulher nunca nos largue é fazer com que tenha orgasmo, porque os homens vêm-se depressa e elas nem chegam a aquecer; o método dele é pensar nas guias do Fundo do Desemprego e o Vilhena diz o mesmo mas com as classificações do futebol. Mas a verdade é que as mulheres têm clitóris, as negras, por exemplo, têm-nos do tamanho de feijões”...

Nota – apontamento do livro anexo.


Amândio G. Martins

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