quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Os “capitões” de areia


Quando Jorge Amado, há já mais de 80 anos, publicou o seu libelo de denúncia da desigualdade e da injustiça que grassavam no Brasil de então, estaria certamente longe de pensar que, passado todo este tempo, os brasileiros, de livre vontade e em eleições democráticas, viriam a eleger um “capitão” que os convenceu de que a brutalidade, a intolerância e a punição exemplar dos criminosos e dos que não são como “nós”, é o caminho ideal para se atingir a sociedade perfeita. Nada como praticar-se o mal para se atingir o “bem”, a coberto de teorias ponteadas aqui e ali por orações de “evangelismo” mais do que duvidoso. Para dar um toque de afinado tempero, umas citações da Bíblia caem sempre bem e sossegam as consciências que, com algum bom-senso, estariam bastante pesadas. Este ex-capitão, tão lesto a erigir em instituição salvadora um Exército que o expulsou das suas fileiras, tem fibra arenosa, muito menos consistente do que a dos meninos-criminosos de que Amado se socorreu para nos dar a imagem de um Brasil que, no essencial, parece ter mudado muito pouco relativamente à geração de Getúlio Vargas. Esperemos só não ter de ver o “Capitães da Areia” novamente na fogueira.

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