Quando Jorge
Amado, há já mais de 80 anos, publicou o seu libelo de denúncia da desigualdade
e da injustiça que grassavam no Brasil de então, estaria certamente longe de
pensar que, passado todo este tempo, os brasileiros, de livre vontade e em
eleições democráticas, viriam a eleger um “capitão” que os convenceu de que a
brutalidade, a intolerância e a punição exemplar dos criminosos e dos que não são
como “nós”, é o caminho ideal para se atingir a sociedade perfeita. Nada como
praticar-se o mal para se atingir o “bem”, a coberto de teorias ponteadas aqui
e ali por orações de “evangelismo” mais do que duvidoso. Para dar um toque de
afinado tempero, umas citações da Bíblia caem sempre bem e sossegam as
consciências que, com algum bom-senso, estariam bastante pesadas. Este
ex-capitão, tão lesto a erigir em instituição salvadora um Exército que o
expulsou das suas fileiras, tem fibra arenosa, muito menos consistente do que a
dos meninos-criminosos de que Amado se socorreu para nos dar a imagem de um
Brasil que, no essencial, parece ter mudado muito pouco relativamente à geração
de Getúlio Vargas. Esperemos só não ter de ver o “Capitães da Areia” novamente
na fogueira.
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