terça-feira, 11 de outubro de 2022

 

A RELIGIÃO E A NATUREZA HUMANA


Os princípios de todas as religiões são excelentes. O problema, são as leituras que deles se fazem e a natureza humana. Como se sabe, capaz do melhor e do pior.

Vem isto a propósito da manipulação que líderes políticos, estados confessionais ou não, através, nomeadamente, da comunicação social mas não só, fazem da religião para ganhar eleições, ou obter outros dividendos. Os exemplos são muito antigos e mantêm-se.

A deturpação da religião, levou às maiores monstruosidades da historia da humanidade. Guerras prolongadas e cruéis, por exemplo, as Cruzadas, ou outra página tão negra da Igreja Católica, a Inquisição com o seu tenebroso Tribunal do Santo Ofício. Comparados com eles, a PIDE e os Tribunais Plenários, os seus responsáveis, quase não passavam de meninos de coro.

As pessoas eram queimadas vivas ou submetidas às torturas mais requintadas e atrozes, como, por exemplo, esta que ficou no imaginário; “ficar de mãos a abanar”. As mãos eram colocadas entre duas palas de uma prensa que ia apertando lentamente até a vítima, imagine-se com que sofrimento, ficar com os ossos esmigalhados. Ficando então, de mãos a abanar.

A propósito da Inquisição, sugiro um filme que está aí em exibição nos cinemas e tão pouco publicitado, “1618”. A realização é de Luís Ismael, e retrata a delação, a perseguição e a condenação de cristãos-novos. Mais de dois séculos depois da expulsão dos judeus , os que podiam, tinham de fugir para o estrangeiro para não caírem nas garras do Tribunal do Santo Ofício.

Ainda em relação ao Cristianismo, lembrar a questão das transfusões de sangue mesmo em casos de vida ou de morte, cujo principio se aplica até às inocentes crianças das Testemunhas de Jeová, os inúmeros casos de pedofilia de padres e bispos e a manipulação de muitos milhões de eleitores pelas seitas evangélicas.

A outra grande religião, o islamismo, a sua influência mais perniciosa manteve-se até à atualidade. Veja-se o caso de tantos estados confessionais, xiistas ou sunistas, com leis e práticas implacáveis para manterem a sua influência. E ainda, com fações absolutamente terroristas e criminosas como o autodenominado Estado Islâmico ou a Al-Qaeda.

Se fomos feito à imagem e semelhança de Deus, se Ele é amor, porque é que tantos de nós, são tão maus? Claro que os teóricos veem logo com a história do livre arbítrio que Ele nos deu.

Mas se nos deu, e se tantos o usam tão mal, continuam a ser a Sua imagem e semelhança?

Portanto, a melhor “religião”, não será a nossa consciência? Não será cumprirmos um principio tão básico que é o de não fazermos aos outros o que não gostamos que nos façam a nós? Não será tentarmos cumprir o que consensual e universalmente se considera o bem? Resumidamente, não será olharmo-nos ao espelho e não sentirmos a consciência pesada com o que vemos?

Quem não a tiver, perante o mal que faz, deve arcar com a justiça dos homens. Finalmente, todos os que a têm, devem pugnar para que esta justiça, seja o mais correta possível.

Francisco Ramalho

Publicado hoje no jornal "O Setubalense"

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