A indignidade das chamadas “praxes académicas”, que todos os anos causam celeuma, parece que quem menos indigna são os jovens a essas violências sujeitos, porque quando aparece alguém que se queixa daqueles abusos, é logo desautorizado pela grande maioria dos que concordam com aquelas imbecilidades; dizem os promotores daquelas besteiras, que as “praxes” foram criadas com o saudável objectivo de ajudar a integrar os novatos na nova fase da sua vida, mas os “regulamentos” daquela coisa são tão atentatórios da dignidade da pessoa, que só podem ter sido feitos pelos que parasitam as escolas do ensino superior, acumulando anos de chumbos, não servindo de exemplo para nada.
As televisões espanholas mostravam ontem um vídeo que corria nas redes, registando as ofensas mais grotescas e obscenas que os “meninos” dum colégio mayor, como lá chamam às universidades, dirigiam às moças da mesma instituição, e em relação ao qual toda a gente se mostrou revoltada, até porque as “novatadas”, como lá chamam às “praxes”, estão proibidas nas escolas do país.
Todavia, para espanto de toda a gente, as “muchachas” saíram em defesa dos ”cavalleros”, dizendo que não se sentiram ofendidas, que o que foi publicado não passava de uma “broma”, e são todos muito amigos; de facto, lá como cá, a gente que não concorda com aquelas grosserias acaba por ter de aceitar que a sua reacção não passa de coisa de velhos, que nada entendem dos novos “valores” da juventude...
Amândio G. Martins
Àcerca do mesmo assunto, escrevia no JN aproximadamente há duas semanas a ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues, depois de passar umas horas a apreciar as praxes: " Duas obsessões estão presentes nos códigos de praxes das várias instituições do Ensino Superior. Em primeiro lugar, a hierarquia e o poder hierárquico baseados no número de inscrições no curso. São os alunos que mais vezes chumbam e que mais tempo demoram a acabar os cursos que chegam a superiores hierárquicos. São esses que humilham os que acabam de entrar. Em segundo lugar, as proibições e sanções, quase sempre arbitrárias e fúteis, associadas ao traje e à imposição da obediência dos que são considerados inferiores.
ResponderEliminarAs praxes promovem a aprendizagem da resignação e da obediência sem avaliação nem resistência, não do espírito crítico e da criatividade. Promovem a aceitação da humilhação e do medo, não da afirmação pessoal e da coragem. Promovem a discriminação, não a solidariedade e a tolerância. Cultivam mesmo a antítese do que deve ser a vida na universidade".
Nessa página, para além da coluna da direcção, gosto sempre do que escrevem Maria de Lurdes Rodrigues e Capicua...
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