RECEITA LIBERAL
Fomos recentemente surpreendidos com os resultados práticos de um "choque fiscal".
Se é que entendi bem, a receita é a seguinte: alivia-se de forma radical os impostos cobrados às empresas e particulares com maiores lucros/rendimentos e estes irão reinvestir na economia os excedentes assim proporcionados, criando mais riqueza e empregos, numa espiral virtuosa.
Assim quis fazer Liz Truss, PM britânica. Mas foi surpreendida pelos mercados financeiros, que na expectativa de um crescimento exponencial do recurso ao endividamento do Estado, para suprir as receitas fiscais de que abdicou, reagiram de imediato aumentando as taxas de juro. De tal forma que até o insuspeito FMI recomendou ao governo britânico que desistisse de aplicar esta receita. E já sabemos o que aconteceu, o ministro das finanças caiu, já foi anunciado o recuo quase total nestas medidas e a própria PM parece estar a prazo (já houve os desenvolvimentos que todos conhecemos). Afinal aquela é a terra do Robin dos Bosques, não é? Tirar algum aos ricos para dar aos pobres.
Este texto foi publicado no Público de 21.10.2022, com algumas sempre irritantes alterações. Enfim, o jornal é deles, mas os textos são nossos, às vezes preferia que não os publicassem a fazerem alguns cortes e alterações que quase os descaracterizam. Não foi este o caso mas já aconteceu.
Mas queria continuar a glosar este tema dos neoliberais da política e economia, desta feita em Portugal. Ouvi ontem o "dandy" liberal português, J C Figueiredo, a explicar laboriosamente porque se retira da liderança do partido. Assunto que me entrou a cem e saiu a duzentos porque o que os políticos fazem ou deixam de fazer dentro dos seus partidos é pró lado que durmo melhor.
Não me escapou foi o tempo que se demorou na explicação das virtudes dos liberais, desprendidos dos cargos, grandes argumentadores até à exaustão se necessário, argutos de inteligência e com um fino sentido de humor. Enfim, uns "gentlemen" da política.
Até aqui tudo bem, acontece que ao ouvir tudo aquilo não pude deixar de me sentir uma cobaia encerrada num laboratório onde esta gente vai fazendo experiências neoliberais com a minha pensão de reforma, a ver o que resulta melhor. Foi o que se viu em Inglaterra!! Será que as pessoas cá conseguiram relacionar as coisas?
Costuma-se dizer que o Povo tem sempre razão. Desejando ardentemente que assim seja, confesso que cada vez mais me assusto quando se pede a opinião desse Povo. E não garanto que a culpa pelas consequências seja toda dele.
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