Os media e toda a Comunicação Social têm muita força. Fazem e desfazem
milagres, tal como elevam e derrotam personagens com uma velocidade
estonteante, e constroem com areia ídolos e os destroem como budas de barro.
Desde que começou a viagem para França, aonde a Selecção Nacional Futebol, do
circo e da trivela, e do comentário mais entusiasta, presidencial e republicano na véspera da
partida, todos os especialistas na matéria colocaram na grelha dos melhores, um
nome e um craque, que normalmente tem uma passagem fugaz no circuito para o
qual é escolhido. É ele um mustang, segundo uns, é ele um falhado segundo
outros, e ainda um incompreendido segundo os mais cristãos que vão à missa
mesmo que chova. Chama-se o craque - Quaresma. Ricardo Quaresma. Toda a
imprensa pôs de repente o país e o que dele se estende pela 2ª capital de
Portugal, a enaltecê-lo, a gabar-lhe atributos que nós raramente registamos na
memória, excepto a sua rebeldia de nómada, e o seu desprazer em colaborar com o
colectivo aonde seja inserido. Mas os media são assim. Levam o povinho e o
povão, o ministro e o presidente, nessa procissão. De repente levanta-se a
preocupação, e tudo quanto era génio, magia, coisa de outro mundo, parece ruir
à mínima dor, à menor mazela que ameaça tirar o homem capaz de desequilibrar o
adversário que se lhe opõe, e o pânico instala-se nas hostes apoiantes e
coloridas, de nacionais no território físico e no território espiritual por
onde andam os portugueses animados. Não basta afinal termos o "melhor do
mundo". Falta-nos o seu fornecedor de passes de trivela, para que o golo
mortal e vitorioso aconteça, que o outro tira proveito e fama. Que raio de
sorte a nossa que nos há de sempre surgir à última hora um desaire, que servirá
para justificar o fracasso que possa de tal acidente, advir. E ele terá maior
expressão se tais males se estenderem ao atleta bronzeado, que diz ser o melhor
jogador do mundo nos últimos 20 anos. Não contando para já com os que fez à
vela, em águas calmas, bem ou mal acompanhado por quaresmas em biquini, embora
tardiamente chamadas a compor a fotografia por causa das más línguas. Os media
têm muita força, não tenhamos dúvidas. Somos os melhores da farra. Viva
Portugal!
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