Misturada na fila indiana que pé ante pé seguia junto à margem do lago,
Bárbara cuidava de apanhar os raios de sol no lado da face que mais lhe dava
prazer. De olhos semicerrados, blusa dois botões desapertados, sapatos leves e
arejados mas próprios para caminhadas, o rosto a brilhar e projectado nas águas
serenas, Bárbara não contava com aquele intruso e inconveniente fazedor de
perguntas fora do contexto. Resguardada no seu íntimo aonde as reflexões nascem
e se reproduzem ou morrem connosco, à pergunta do repórter provocador, ela
despertou, e olhando a sigla do microfone do repórter, que mais lhe pareceu um
símbolo fálico de Caldas do que de uma ferramenta de recolha de som, Bárbara,
numa atitude de mulher bravia, quase ultramontana, arrancou das mãos do
operário da Estação Têvêfónica o aparelho, ainda confundido com um fósforo
gigante, pois tinha a cabeça vermelha e mais lembrava um maço de pedreiro com
carapuço de feltro, ou um malho de bombo de festa, manipulado por um malandreco
sem eira nem beira, que nem Bordalo seria capaz de reproduzir. Estupefacto e a
latejar sem contudo dar disto sinais, o repórter afastou-se devido à
proximidade dos bíceps dos gorilas de serviço naquela procissão relaxante à
beira rio, a que Bárbara aderira e porque lhe era aconselhado pelo seu
físio-psiquiatra. Sabe-se desde há muito tempo, que se o jornalista da tal
Estação para a qual desempenhava o seu papel, fosse Homem do norte, conhecido
pelo seu carácter erecto e forte malho, a Bárbara apesar de ser mulher
considerada nos meios aonde desenvolve a sua actividade tão nobre quanto
feminina, seria de imediato lançada às profundezas da lagoa, de onde só
regressaria quando exibisse a recolha do micro que antes atirara pelo ar, como
se fosse um têxto enviado de um leitor posto na lixeira, de que não gostou e
não gosta, e se recusou e recusa a publicar no seu jornal, desde que ele, o
malandreco ostracizado feito diabo que a persegue com incómodos, se dispôs a
dizer o que pensa dela, do seu órgão Público, e da vida em geral que
esconde ou disfarça muitas carências, naquela Capital, às vezes pretensamente
elitista, outras vezes, mundana. Coisas que costumam alterarem-se com o tempo!
Joaquim A. Moura - Penafiel
*(uma medíocre ficção, aproveitada de um
acontecimento bárbaro, feito por quem se julga intocável ou superior)
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