Foi um sonho, e não é verdade que o sonho comande a vida, apesar
de ser bonita a letra da canção.
As utopias nunca se realizam, mesmo que estejamos a bater-lhes à
porta. A Europa é uma manta de retalhos de identidades e culturas distintas, sempre
apetecível às hegemonias repartidas entre os alemães, os franceses e os
ingleses. Os outros são periferias, clientes
à força com juros sempre altíssimos, que se foram aliando na história a uns
e a outros, seguindo os interesses de momento.
A União Europeia existiu na cabeça de alguns livres pensadores e
os povos seguiram-nos.
Podia ter sido bonito.
Entretanto, as pessoas venderam-se a um mundo de novas
oportunidades e a todas as facilidades: a circulação sem controlo num
território muito mais amplo do que o seu país, a livre circulação de produtos e
bens e logo de negócios facilitados, uma moeda única e forte, e finalmente para
manter a sua anestesia global, a concessão facilitada de créditos sem limites, o
que lhes deu a sensação, equivocada,
de que ser da União Europeia era ter acesso ao dinheiro fácil e barato.
Promete-se um paraíso bem embrulhado com fitas coloridas e
laçarotes e o povo baba e aceita a prenda.
Entretanto, neste frenesim de o gastar (o dinheiro) as pessoas
distraíram-se e os pensadores que honestamente tinham tido o sonho da Europa,
foram sendo substituidos por abutres. Estes trouxeram consigo catrefadas de
burocratas e tecnocratas, essenciais para o trabalho sujo de transformarem um
projecto digno numa quinta de privilégios e enriquecimento ilícito.
Instalou-se um lupanar gigante onde antes se quis construir uma
ideia com sentido.
Tudo acabou no início do verão, quando o tempo promete descanso
e bonomia, mas afinal anuncia ventanias e chuvas inesperadas. Começa hoje um
novo ciclo da história do mundo, muito mais assustador e muito mais triste.
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