O Panamá é um país que se situa no istmo que une a América do
Norte com a América do Sul. Entre outras coisas tem o canal que foi uma
excelente ideia para encurtar as ligações marítimas entre o Oceano Atlântico e o
Pacífico, sem se ter de contornar o extremo da Patagónia e fazer a travessia do
temível Estreito de Magalhães, um estreito com mau feitio.
O país é mais reconhecido pelo chapéu “Panamá”, que na realidade
é manufacturado no Equador (dá pelo nome de el
Fino), com a palha da Carludovica
Palmata, que fique dito. Em 1906 o Presidente Roosevelt de visita ao canal,
levava na cabeça um chapéu destes, e alguém da comitiva ou um local, deu-lhe o
nome de Panamá – ao chapéu –, pegou e é assim que se criam as marcas.
O Panamá é também conhecido como paraíso fiscal, a sua moeda
nacional é o Balboa, que nem os próprios panamianos conhecem por preferirem os sorridentes
dólares.
Há muitos tipos de paraísos. Os post mortem são bastante apreciados e algumas religiões publicitam-nos
bem aos bem comportados na terra. Os que estão mais à mão e não é necessário
falecer para os usufruir, localizam-se na terra. Alguns são difíceis de
alcançar, são bons destinos turísticos para quem tem posses, outros são
simplesmente ideias, conceptualizações, sendo subjectivos e ao gosto de cada um.
Os fiscais ou financeiros, também conhecidos por offshore que em português quer dizer
“fora de pé”, são os melhores.
Quem chega a eles seja em regime de propriedade privada ou
partilhada, tipo time sharing, é um
escolhido, um eleito, alguém cuja santidade – apesar de humana – o levou às
portas de um paraíso.
Esta conversa continuaria assim, simples e poética e inócua, não
fosse um consórcio internacional de maldizentes acometidos de inveja sarnosa –
os jornalistas, quase todos sofrem desse mal de pele – descobrir (melhor,
alguém lhes pôs em cima da mesa) uma papelada que aparentemente incrimina umas
boas pazadas de indivíduos por esse mundo fora.
Parece haver provas – nessa papelada - de acumulação indevida de
bens e riquezas de proveniência e origem que levantam ligeiras dúvidas, bens
esses escondidos e urdidos neste paraíso
por belas filigranas de engenharia financeira.
É muito estranho que alguém tenha tamanha maldade para lançar o
mau nome a tanta pessoa de bem: políticos, grandes empreendedores, desportistas
de topo, artistas de todas as Artes, e boas.
Os meios de comunicação, ávidos de sangue fresco para as suas
cabidelas informativas opíparas, agarraram-se à papelada, confusa e com muitas
folhas soltas, e anunciaram ao mundo, que nos próximos meses e a conta-gotas
(para manter o momentum e os jornais venderem
bem), iriam divulgar os nomes desses cidadãos (muitos deles Comendadores, e
Cavaleiros, e Grandes Oficiais, medalhados por grandes feitos nos dias dos
Camões das suas pátrias).
Nas primeiras semanas foi um tsunami,
os comentadores e comentaristas, em consultas feéricas a Wikipedia, para aprenderem alguma coisa sobre esse país, consultando
tratados de teologia e história das religiões, para compreenderem a ideia de
paraíso, dando voltas às possíveis traduções de “offshore”, se é mesmo fora de
pé, ou isso é só uma “imagem”, com outra leitura.
Não se falou de outra coisa, até que outra coisa de igual
importância se faz nova notícia e todos voltam as suas atenções para isso,
esquecendo de imediato que o Panamá existe.
O povo, aborregado e de boca aberta, aguardou com curiosidade a
divulgação prometida dos nomes, afiando os cutelos para os linchamentos em
praça pública, entretenimento de muito agrado quando não há campeonatos de
futebol.
Eis que quando já está tudo à beira do orgasmo, cai dos céus uma
chuveirada de anti clímax, e abate-se o silêncio sobre a matéria. Num sem mais
ou porquê, deixou-se de falar nos Panama Papers. Uma ausência de palavras com
indícios fortes de ponto final parágrafo.
Alguns ingénuos, que são poucos e inofensivos perguntam-se o que
aconteceu? Então e os nomes bombásticos que iam ser revelados? Não era agora
que se ia conhecer a grande conspiração das forças do Mal?
Porque se calaram os jornalistas?
Falemos de outras coisas:
De empate em empate até à vitória final, é este ano que se vai
lá, ganhar a Europa, quando já nem se quer ser vizinho dela, o que não tem nada
a ver com o assunto do Panamá mas agora o que realmente interessa é o nosso
meio campo central e a fé científica do nosso mister.
Eis o Luís Robalo do meu contentamento em tão bem saber escrever.
ResponderEliminarUm forte abraço.
Um grande abraço José, vou de férias acabar um livro, que me está a consumir anos para resolver o final
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