segunda-feira, 27 de junho de 2016

CHAPÉUS HÁ MUITOS E TAMBÉM PALERMAS





O Panamá é um país que se situa no istmo que une a América do Norte com a América do Sul. Entre outras coisas tem o canal que foi uma excelente ideia para encurtar as ligações marítimas entre o Oceano Atlântico e o Pacífico, sem se ter de contornar o extremo da Patagónia e fazer a travessia do temível Estreito de Magalhães, um estreito com mau feitio.
O país é mais reconhecido pelo chapéu “Panamá”, que na realidade é manufacturado no Equador (dá pelo nome de el Fino), com a palha da Carludovica Palmata, que fique dito. Em 1906 o Presidente Roosevelt de visita ao canal, levava na cabeça um chapéu destes, e alguém da comitiva ou um local, deu-lhe o nome de Panamá – ao chapéu –, pegou e é assim que se criam as marcas.
O Panamá é também conhecido como paraíso fiscal, a sua moeda nacional é o Balboa, que nem os próprios panamianos conhecem por preferirem os sorridentes dólares.
Há muitos tipos de paraísos. Os post mortem são bastante apreciados e algumas religiões publicitam-nos bem aos bem comportados na terra. Os que estão mais à mão e não é necessário falecer para os usufruir, localizam-se na terra. Alguns são difíceis de alcançar, são bons destinos turísticos para quem tem posses, outros são simplesmente ideias, conceptualizações, sendo subjectivos e ao gosto de cada um.
Os fiscais ou financeiros, também conhecidos por offshore que em português quer dizer “fora de pé”, são os melhores.
Quem chega a eles seja em regime de propriedade privada ou partilhada, tipo time sharing, é um escolhido, um eleito, alguém cuja santidade – apesar de humana – o levou às portas de um paraíso.
Esta conversa continuaria assim, simples e poética e inócua, não fosse um consórcio internacional de maldizentes acometidos de inveja sarnosa – os jornalistas, quase todos sofrem desse mal de pele – descobrir (melhor, alguém lhes pôs em cima da mesa) uma papelada que aparentemente incrimina umas boas pazadas de indivíduos por esse mundo fora.
Parece haver provas – nessa papelada - de acumulação indevida de bens e riquezas de proveniência e origem que levantam ligeiras dúvidas, bens esses  escondidos e urdidos neste paraíso por belas filigranas de engenharia financeira.
É muito estranho que alguém tenha tamanha maldade para lançar o mau nome a tanta pessoa de bem: políticos, grandes empreendedores, desportistas de topo, artistas de todas as Artes, e boas.
Os meios de comunicação, ávidos de sangue fresco para as suas cabidelas informativas opíparas, agarraram-se à papelada, confusa e com muitas folhas soltas, e anunciaram ao mundo, que nos próximos meses e a conta-gotas (para manter o momentum e os jornais venderem bem), iriam divulgar os nomes desses cidadãos (muitos deles Comendadores, e Cavaleiros, e Grandes Oficiais, medalhados por grandes feitos nos dias dos Camões das suas pátrias).
Nas primeiras semanas foi um tsunami, os comentadores e comentaristas, em consultas feéricas a Wikipedia, para aprenderem alguma coisa sobre esse país, consultando tratados de teologia e história das religiões, para compreenderem a ideia de paraíso, dando voltas às possíveis traduções de “offshore”, se é mesmo fora de pé, ou isso é só uma “imagem”, com outra leitura.
Não se falou de outra coisa, até que outra coisa de igual importância se faz nova notícia e todos voltam as suas atenções para isso, esquecendo de imediato que o Panamá existe.
O povo, aborregado e de boca aberta, aguardou com curiosidade a divulgação prometida dos nomes, afiando os cutelos para os linchamentos em praça pública, entretenimento de muito agrado quando não há campeonatos de futebol.
Eis que quando já está tudo à beira do orgasmo, cai dos céus uma chuveirada de anti clímax, e abate-se o silêncio sobre a matéria. Num sem mais ou porquê, deixou-se de falar nos Panama Papers. Uma ausência de palavras com indícios fortes de ponto final parágrafo.
Alguns ingénuos, que são poucos e inofensivos perguntam-se o que aconteceu? Então e os nomes bombásticos que iam ser revelados? Não era agora que se ia conhecer a grande conspiração das forças do Mal?
Porque se calaram os jornalistas?
Falemos de outras coisas:

De empate em empate até à vitória final, é este ano que se vai lá, ganhar a Europa, quando já nem se quer ser vizinho dela, o que não tem nada a ver com o assunto do Panamá mas agora o que realmente interessa é o nosso meio campo central e a fé científica do nosso mister.

2 comentários:

  1. Eis o Luís Robalo do meu contentamento em tão bem saber escrever.
    Um forte abraço.

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  2. Um grande abraço José, vou de férias acabar um livro, que me está a consumir anos para resolver o final

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