Ser benfiquista
A TVI24 apresentou uma reportagem,
da autoria de Vitor Bandarra, sobre os ditos hinos do Sport Lisboa e Benfica, sendo
o antigo, “Avante, avante, pelo Benfica” (1929), com letra de Félix Bermudes
(1874/1960) e música de Alves Coelho (1882/1931), interpretado pelo Orfeão do
clube e o actual, “Ser benfiquista” (1953), numa fantástica interpretação do
tenor Luís Piçarra (1917/1999), com letra e música do Dr. Manuel Paulino Gomes
Júnior (1912/2000). É interessante o facto de nenhum destes importantes benfiquistas
ser lisboeta. Félix Bermudes nasceu no Porto, Alves Coelho, em Arganil, Paulino
Gomes, em Aldegalega, actual Montijo e Luís Piçarra, em Moura.
Para fazer a crítica à qualidade
destes hinos, foi convidado o maestro António Vitorino de Almeida, que se
pronunciou, de forma nada abonatória, sobre a qualidade destas peças musicais,
entendendo que nenhuma tem características para ser hino do clube e apelando
para que se faça um outro hino. Os autores do primeiro hino foram pessoas de reconhecido
mérito no campo da cultura, pois Félix Bermudes para além de ser um homem de
letras, especialmente nas áreas do teatro, foi tradutor de diversas obras de
grande valor literário, como o “If” de Rudyard Kipling, tendo sido membro
fundador e presidente da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais
Portugueses, e como cidadão político, exerceu o seu dever cívico, fazendo parte
das listas da Oposição Democrática de 1949, apoiando a candidatura de Norton de
Matos. Sobre Alves Coelho, o seu mérito como compositor, autor de muitas
composições de música ligeira, na época teve reconhecimento do público e dos
pares. O maestro Vitorino de Almeida desvalorizou estas obras, dizendo que não tinham
condições para serem consideradas como hinos, utilizando os vocábulos “pindérico”
e “marcha fúnebre” e de entre outros defeitos, o de 1929, ser muito comprido.
Quanto ao “Ser benfiquista”,
entendeu o maestro que era difícil de interpretar, porque não tinha a
verdadeira qualidade de hino, e que a letra tinha algo de ridículo, como o
verso “São papoilas saltitantes”, o que a minha sensibilidade de poeta me diz, o
crítico está a retirar as palavras do contexto, pois este verso dá sequência ao
que o antecede, e que completa o sentido da mensagem, “Que nos campos a vibrar”/
“São papoilas saltitantes”. Isto entra no campo da liberdade poética, que é
aceitável. O Dr. Manuel Paulino Gomes Júnior pertence a uma família tradicional
republicana muito respeitável e foi um causídico respeitado no foro e um
musicólogo de mérito, para além de bom pianista. Já o pai, o Dr. Manuel Paulino
Gomes (1888/1972), advogado e professor, foi um homem de letras, fundador e
director dos jornais a “Razão” (1917), e “A Liberdade” (1922), político
republicano e lutador pela liberdade durante toda a vida. A filha de Paulino
Gomes Júnior, Manuela Paulino, foi locutora da TV e esposa de Luís Feist e mãe
dos artistas Nuno e Henrique Feist.
“Ser benfiquista”, pode, pelo
crítico, ser considerada apenas uma canção e não ter as características
clássicas de hino, mas sendo adoptada pela alma benfiquista, que a sente nos
momentos mais importantes da vida do clube, isso é o que importa porque é a
realidade. Quanto ao 3.º hino, neste momento, parece-me uma proposta descabida
e de mau gosto.
Joaquim Carreira Tapadinhas – Montijo, BI 9613, TM 962354823 -
jcatapadinhas@gmail.com
O António Vitorino de Almeida tem razão: comparar os jogadores do Benfica a papoilas saltitantes é no mínimo ridículo. Eu quase que diria mesmo que é ofensivo à dignidade de cada um dos profissionais do SLB.
ResponderEliminarSendo portista de gema, divirto-me imenso sempre que ouço tamanha alarvidade!
A sensibilidade poética é um dom que nem todos têm. Daí, nem sempre ser comprendida, do que não vem mal ao mundo. Obrigado por ter comentado, ainda que não sinta a profundidade do poema.
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