O Engenheiro Geraldo completou o
curso num percurso de enormes dificuldades. Numa casa modesta cresceu e viveu,
na companhia dos pais e dos irmãos, que labutavam, sem horários, para manter
uma vida digna. Geraldo sonhou e conseguiu, após anos de trabalho honesto e poupança,
a casa dos seus sonhos. A casa enorme, com todos os requintes de bem-estar,
jardins, piscina, garagem e apartamento de apoio, é agora o lar desse sonhador
e amigo da família, pois os seus velhos pais também a habitam.
Os sonhos quando passam a realidades,
por vezes, tornam-se demasiado onerosos. A casa, que foi crismada de mansão,
com todas as modernices que a compõem, que ocupou dezenas de operários e
artistas na sua construção, tudo gente honesta a quem o Estado cobrou os
impostos e taxas, já ultrapassa o valor de um milhão de euros e paga às
autoridades um IMI brutal, ou seja uma taxa correspondente. Para manter
“saudável”, prestimosa e útil a mansão, são necessárias reparações de
manutenção e pessoal permanente nos jardins e piscina, na cozinha e na
segurança, tudo dependente do rendimento que o engenheiro aufere na empresa
donde é sócio.
O Governo, sequioso de impostos,
e porque não tem em conta o bem-estar dos cidadãos, resolveu saquear a
propriedade com uma taxa de 5%, sobre o valor estimado em 1.200.000€, de que
resulta um encargo de 60.000€ anuais, mais propriamente 5.000€ mensais. Para
fazer frente ao encargo fiscal, Geraldo despediu o jardineiro, o motorista e
reduziu os serviços externos nos contratos a que estava ligado. O encargo
social do desemprego tem agora mais dois componentes. A empresa, da qual o
engenheiro é administrador, está em dificuldade económica, devido à crise
generalizada do sector e, possivelmente, entrará em processo de falência.
Geraldo é um cidadão honesto, uma
espécie quase rara na sociedade actual, e quer vender a mansão, porque não pode
suportar os encargos com a sua manutenção. Já anunciou a venda em tudo o que é
sítio, mas dado o seu elevado preço, acrescido de IMI, mais brutal imposto
mensal de 5.000€, só um louco a compraria. Sem comprador, sobrecarregada de
impostos vencidos, e com juros e multas acrescidas, a mansão irá degradar-se e,
com o decorrer do tempo, ficará para o Estado.
Esta efabulação pode ser um
retrato de algumas situações que o futuro reserva na vida portuguesa, e que é
consequência da ganância cega das autoridades que nos governam, que não olham a
meios e não respeitam os cidadãos. Já taxavam e criavam impostos em tudo quanto
mexe, mas querem ir mais longe, entrando na casa do contribuinte, que tem de
pagar, escandalosamente, uma taxa extra, sobre a casa onde habita, desde que
seja confortável ou bem localizada.
Joaquim Carreira Tapadinhas, Montijo – BI 9613 – TM 962354823
Sem comentários,mesmo!!!
ResponderEliminarBoa efabulação. Apesar de tudo o que aconteceu aos portugueses e ainda virá a acontecer, acho que ninguém espera que a taxa máxima do IMI passe de 0,5% para 5% (aumento de 1.000 por cento?). Também acho muito difícil que um engenheiro de baixa extracção social, em Portugal, consiga meter-se no meio dos cerca de 8 mil portugueses que têm esse tipo de casa, tanto mais que a maioria destes, como bem sabemos, tem riqueza antiga e herdada. Mas que a efabulação é boa, é sim senhor.
ResponderEliminarUm abraço.
O que se deseja salientar nesta "história" é a cegueira na cobrança exagerada de impostos e taxas, pois o nosso país está no podium na cobrança destes e os governos não têm em conta os rendimentos que os contribuintes auferem. Confrontamos na carga fiscal a Suécia, a Dinamarca, a Alemanha, etc., mas não os salários que nesses países são pagos, tal como benefícios sociais, que, nalguns casos, vão até ao ensino universitário gratuito. Desde as cúpulas às bases, o nosso aparelho governamental é demasiado oneroso, pois tem excesso de departamentos e secções paralelas, que aumentam a burocracia e mais não são que refúgio, para albergar as clientelas políticas e partidárias. O rol é enorme, mas pouco adianta fazer a leitura, porque, aos responsáveis, não interessa reduzi-lo. Um abraço à "rapaziada", que continua a lutar, na esperança de um mundo melhor.
ResponderEliminarPublicado, hoje, dia 1 de Outubro, no jornal "Expresso", com ligeiros cortes, na coluna de Opinião - Cartas dos Leitores.
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