Terremotos: a ameaça que não se cala
*Cristiane Lisita
Ocorrem no planeta, anualmente, mais de duzentos mil
tremores. Muitos deles não são sentidos,
diferentemente, alguns provocam enormes catástrofes. Os terremotos ou abalos sísmicos são resultantes
de uma brusca liberação de energia na crosta terrestre, mais especificamente
pelo abalroamento das placas tectônicas, causando magnitudes distintas. Embora proceda
dessas falhas geológicas naturais, também surge em razão de atividade vulcânica
etc.
Em Portugal, esses fenômenos procedem em razão da
proximidade com a placa africana e a placa euroasiática. São mais de mil por
ano. Segundo apontam estudiosos, eles têm origem no oceano podendo atingir altos
índices na escala Richter. Levando em
conta o terremoto de novembro de 1755 há divergência quanto à previsão de uma
nova incidência, que para uns seria de aproximados 250 anos, tempo esse
exaurido. Outros acreditam que pode levar até mil anos, bem como pode advir a
qualquer momento. Note-se que os sismógrafos modernos, se aparelhados em rede,
podem detectar a posição exata do foco, e a quantificação de energia dessas
ondas ao chegarem à superfície terrestre, seu epicentro. No entanto, não
identificam quando vão calhar os sismos, tão somente a consequência, por
exemplo, de um tsunami.
No caso em tela a microplaca da Península Ibérica e
a placa africana (Açores/Gilbratar), afluem de forma enviesada ensejando uma
elevação da litosfera oceânica que deu surgimento ao Banco de Gorringe, um
maciço montanhoso submerso no Oceano Atlântico, com 200 km de extensão. Local
do epicentro do terremoto que aniquilou Lisboa, Algarve, e várias cidades na
África, possivelmente tendo alcançado 9.0 na escala. Está disposto cerca de 120
milhas marítimas a oeste-sudoeste do Cabo de São Vicente, e apenas foi
descoberto em 1875, ou seja, mais de um século depois do acontecido.
Além desse terremoto de magnitude importante, o de janeiro
de 1531, matou 30.000 trinta mil pessoas, o que equivale a mais de 20% da
população à época. Em fevereiro de 1969 os tremores foram de 7.3, na escala Richter, e em dezembro de 2009, de 6.0, com epicentro a 100 km de
Sagres, adjacente ao Cabo de São Vicente.
As falhas geológicas abrangem o Vale submarino do Sado, o Vale inferior
do Tejo, a Falha de Loulé, a de Portimão, a de Vilariça, a de Nazaré-Pombal, e
a de Açores. Nesse contexto, a população está centrada justamente nas zonas de
maior risco sísmico no país, mormente Algarve (com quase quatrocentos e
cinquenta e duas mil pessoas) e a região Metropolitana de Lisboa, incluso a Península
de Setúbal, (com mais de dois milhões e oitocentos e vinte e duas mil pessoas) deixando
essas localizações extremamente suscetíveis, principalmente com relação aos tsunamis. Há poucos dias um sismo, de 4.1,
a 80 km de Peniche se fez sentir desde Lisboa a Leiria. Hoje, novo abalo sísmico de 2.7 afetou ligeiramente
a Terceira ilha, uma das nove ilhas dos Açores, integrante do chamado Grupo
Central.
Embora
a Comissão Oceanográfica Intergovernamental, da UNESCO, venha investindo em
sistema de alerta de tsunamis no
Atlântico Nordeste (no qual Portugal se insere), Mediterrâneo e outros mares na
região, e do mesmo modo algumas universidades nacionais, a questão está muito
longe da prevenção necessária. Portugal tem exclusivamente estações sísmicas em
terra, num total de cinquenta e duas, que permitem verificar o impacto de um tsunami depois de ocorrido o terremoto,
um espaço de tempo ínfimo para informar a população dos riscos e do modo mais
viável de como se proteger. Nem sequer uma estação mais precisa no fundo do mar
foi instalada, uma vez que, segundo peritos, seriam necessários recursos da
ordem de 700 mil euros por ano para manutenção.
Lembrando
que “melhor prevenir que remediar” é irrefutável que o país comece a encontrar
caminhos para conscientizar a população acerca dessa problemática e intensifique
meios para desenvolver pesquisas científicas em parcerias com entidades locais
e internacionais, minimizando futuras catástrofes. De acordo com dados do
Instituto Nacional de Estatística, de 2014, os hospitais públicos diminuíram as
camas de internamento dos hospitais oficiais. Nota-se que, ainda, aumentaram os
atendimentos em serviços de urgência nos hospitais privados, o que leva a crer
que haveria maior tempo de espera para se conseguir uma vaga nos prontos-socorros
públicos.
Fator
a ser considerado é que em Portugal existem de 42.592 mil bombeiros voluntários
e 6.363 mil profissionais, um número bem reduzido. Embora haja planos especiais
e supradistritais, não se pode esquecer a necessidade de equipamentos peculiares
em episódios de terremotos. Não bastassem esses elementos, em hipótese desse
tipo de calamidade, as seguradoras ficam isentas de pagar qualquer prejuízo,
sendo excluídas de responsabilidade. Deve
ser tido em apreço o fato de que as casas abandonadas em Portugal estão na
ordem de um milhão, contando as que estão em ruínas e/ou as que foram largadas.
Só na capital ultrapassam cinco mil representando sério risco de efeito dominó
junto aos demais imóveis no caso de terremotos.
Além
do que, mesmo com as verbas da União Europeia, para ajudas de solidariedade na reconstrução,
sobretudo, da infraestrutura, o país retardaria qualquer avanço socioeconômico
durante muitos anos, se não houver fundos e reservas nacionais que colaborem
mais rapidamente para sanar dificuldades posteriores. Poder-se-ia enumerar aqui
diversos componentes que devem ser analisados na iminência de abalos sísmicos. Contudo,
a conscientização das pessoas quanto à probabilidade de um tremor de terra de
grande magnitude tem que ser bem administrada. Prevenir, de todas as formas, é
preciso. Ensina Henry Ford: “o passado serve para evidenciar as nossas falhas e
dar-nos indicações para o progresso do futuro”.
*Cristiane
Lisita (Jornalista, escritora, advogada. Pós-PhD pela Univ. Coimbra)
Uma política de prevenção e fiscalização permanente deveria, sem dúvidas, ser adotada não apenas por nosso Portugal mas por toda a Comunidade Europeia. Este artigo serve de alerta a nossas autoridades. Parabéns!
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