*Cristiane Lisita
Os últimos dados da Agência
Portuguesa do Ambiente, de 2014, registram que em Portugal foram produzidas à
época um total de 4 550 479 toneladas de lixo, refletindo um acréscimo de
mais 2% relativo ao ano de 2013, em contraposição às metas para 2020, invertendo-se
a tendência de decréscimo verificado nos anos anteriores. Os resíduos urbanos
são responsáveis por 4 473 940. Fato a se destacar é que embora tenha ocorrido
esse aumento houve estabilização na quantidade de materiais a serem reaproveitados.
A conscientização da população nesse quesito deixa a desejar, embora o governo
tenha destinado verbas para tal.
Em consonância com essas informações
da APA, dentro os resíduos urbanos recolhidos, a maior taxa, 36,4% é dos
resíduos putrescíveis, ou seja, geralmente alimentos, sobretudo desperdiçados.
Seguem papel e carvão com 13,9% e plástico, na casa de 10,9%. Destaque-se que
entre 2010 e 2014 ocorreu uma redução na contagem de resíduos urbanos que são
destinados aos aterros: de 62%, em 2010, para 42%, em 2014. Papel, alumínio,
plástico, madeira, aço, vidro, embalagens foram reutilizados alcançando cerca
de 570.000 toneladas, um índice ainda relativamente muito baixo, que deve instigar
a encontrar caminhos para reverter esse quadro.
Tome-se o exemplo do Rei do Lixo, em
sua misteriosa Torre do Inferno, cujo castelo estava encravado em uma paisagem
altiva e misteriosa em Coina, no Concelho do Barreiro. O controverso Manuel
Martins Gomes Júnior adquiriu sua propriedade num lugar de passagem constante,
na travessia do Tejo para o Alentejo. De família humilde, viveu certo tempo em
Lisboa, e regressou mais tarde à sua cidade natal, onde começou a vender
cereais. Com o bom negócio adquiriu um moinho de água de moagem de grãos, e logo teria
fundado a Companhia Agrícola de Portugal.
O Rei do Lixo fez sua fortuna
comprando e vendendo lixo. Em 1907, controlava a recolha de detritos orgânicos
na cidade de Lisboa. Valeu-se de suas fragatas para transportá-lo com
finalidade de comercializá-lo e, igualmente, com o intento de alimentar os seus
porcos. Chegou a batizá-las com diversos apelidos diabólicos no intuito de impactar
a sociedade católica e conservadora. Na verdade, o empreendedor não suportava a
ditadura republicana que se revelou contrária ao que ele idealizara, com o povo
esmagado pela tirania de golpes e contragolpes militares.
Há mais de um século o visionário, e
também negociador de porcos, sabia das potencialidades do reaproveitamento dos
resíduos, quiçá ao refletir sobre os vícios dos políticos aburguesados. Deixou
marcas imponentes no castelo que construíra lembrando o palácio cretense de
Minos, no qual estava encerrado o minotauro (a natureza animal) e donde Teseu
só conseguiu sair com a ajuda do fio de Ariadne, numa referência ao caminho
tortuoso da Iniciação a se triunfar pelo labirinto. Mas essa é outra história.
Transcrevendo
Isaac Asimov, escritor e bioquímico naturalizado americano, nascido na Rússia: “Espera mil anos e verás que será precioso até o lixo
deixado atrás por uma civilização extinta”.
*Cristiane
Lisita (jornalista, escritora, jurista)
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