quarta-feira, 28 de setembro de 2016

ALEPO É O QUÊ?





O mundo anda esquisito e entretanto os donos vão fazendo as regatas de fim-de-semana nas doces e tépidas águas da hipocrisia, nome que agora se dá ao mar mediterrâneo.

Findo esse Pilates de caçar velas e fazerem bolinas, juntam-se no sea club terrace, na marina de Lampedusa. Tomam uns Dry Martini equilibrados nos ingredientes e com a respectiva azeitona verde, e rirem-se entre si, amenamente, sobre as suas aventuras náuticas e outras picardias.

Ultimamente têm ganho os russos, os alemães desde que vendam a todos os seus barcos, deixam que ganhe qualquer um. Os franceses só se queixam, gente piegas e cansativa; os ingleses continuam a achar que só eles é que sabem velejar, os americanos metem água que não acaba.
Na segunda-feira voltam todos aos seus afazeres diplomáticos, que é a indústria dos impasses, apesar de se odiarem e terem inveja uns dos outros.

Com tudo isto, Alepo é um nome como outro qualquer e em qualquer dia, sem que se espere, pode aparecer outro nome novo a soar no ouvido. Vão e vêm sem importância nenhuma, só um nome bonito e não passa disso. Não diz nada a ninguém por esse mundo fora a não ser ao milhão e pico de seres que a habitam, que apesar de um milhão e pico, representam nada se forem a meças de quantidade com os mais de sete mil milhões de habitantes do planeta.

Uma ninharia de gente que só tem vida num directo televisivo em prime time. E há gente a mais na terra, há gente redundante a mais. Todos os seres que não conseguem, nem juntos e ao mesmo tempo, fazer ouvir a sua dor, são redundantes.


Os Hitler e Estaline não morreram, são imortais. São figuras de estilo, um estilo que nunca vai acabar, e alguém se importa com isso? Alguém faz alguma coisa para mudar o mundo? Poucos, porque os outros quase todos nós, o que queremos é uma vida boa, com uma pitada de piedade, e um fruir aditivo do apagamento total das coisas do mundo, quando acaba o telejornal e começa a novela da noite.

2 comentários:

  1. O que dói, até ao ínfimo da alma, é a indiferença dos guardiões do mundo, que nos areópagos internacionais, pagos a peso de ouro, não tomam decisões enérgicas para acabar com este terror. Nós, cidadãos comuns, afligimo-nos e sofremos com tudo isto e até nos desgastamos, mas eles, talvez porque estão no Olimpo, sentem uma permanente distância destas tragédias. Esta (in)civilização está no fim, porque está a autodestruir-se.

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  2. concordo e subscrevo, com enorme pesar e pena.

    Abraço.

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