O mundo anda esquisito e entretanto os donos vão fazendo as regatas
de fim-de-semana nas doces e tépidas águas da hipocrisia, nome que agora se dá
ao mar mediterrâneo.
Findo esse Pilates de caçar velas e fazerem bolinas, juntam-se
no sea club terrace, na marina de
Lampedusa. Tomam uns Dry Martini
equilibrados nos ingredientes e com a respectiva azeitona verde, e rirem-se
entre si, amenamente, sobre as suas aventuras náuticas e outras picardias.
Ultimamente têm ganho os russos, os alemães desde que vendam a
todos os seus barcos, deixam que ganhe qualquer um. Os franceses só se queixam,
gente piegas e cansativa; os ingleses continuam a achar que só eles é que sabem
velejar, os americanos metem água que não acaba.
Na segunda-feira voltam todos aos seus afazeres diplomáticos,
que é a indústria dos impasses, apesar de se odiarem e terem inveja uns dos
outros.
Com tudo isto, Alepo é um nome como outro qualquer e em qualquer
dia, sem que se espere, pode aparecer outro nome novo a soar no ouvido. Vão e
vêm sem importância nenhuma, só um nome bonito e não passa disso. Não diz nada
a ninguém por esse mundo fora a não ser ao milhão e pico de seres que a
habitam, que apesar de um milhão e pico, representam nada se forem a meças de
quantidade com os mais de sete mil milhões de habitantes do planeta.
Uma ninharia de gente que só tem vida num directo televisivo em prime time. E há gente a mais na terra,
há gente redundante a mais. Todos os seres que não conseguem, nem juntos e ao
mesmo tempo, fazer ouvir a sua dor, são redundantes.
Os Hitler e Estaline não morreram, são imortais. São figuras de
estilo, um estilo que nunca vai acabar, e alguém se importa com isso? Alguém
faz alguma coisa para mudar o mundo? Poucos, porque os outros quase todos nós,
o que queremos é uma vida boa, com uma pitada de piedade, e um fruir aditivo do
apagamento total das coisas do mundo, quando acaba o telejornal e começa a
novela da noite.
O que dói, até ao ínfimo da alma, é a indiferença dos guardiões do mundo, que nos areópagos internacionais, pagos a peso de ouro, não tomam decisões enérgicas para acabar com este terror. Nós, cidadãos comuns, afligimo-nos e sofremos com tudo isto e até nos desgastamos, mas eles, talvez porque estão no Olimpo, sentem uma permanente distância destas tragédias. Esta (in)civilização está no fim, porque está a autodestruir-se.
ResponderEliminarconcordo e subscrevo, com enorme pesar e pena.
ResponderEliminarAbraço.