quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Em “piloto” automático

Medo de desiludir e perder a filha leva “piloto” a matar

Assim diz o JN de hoje!

Nada desculpa o crime cometido e tentar dar “decência” a um homem que matou para esconder a sua verdadeira face é errado.

Mas infelizmente é mais frequente do que se possa pensar – o viver de aparências, construir uma imagem que não condiz com quem somos, é próprio do ser humano, quando frágil e com poucos valores morais.

O mundo sobrevaloriza quem aparenta ter sucesso e discrimina quem o não tem. Daí que a tentação de alimentar a imagem é grande e por vezes atinge proporções difíceis de controlar.

Este homem provavelmente teve uma vida boa, uma família boa, mas por falta de competências não atingiu o estatuto que entendia merecer e enveredou por uma vida dupla para satisfazer a sua materialidade.

Nem todos podem ser campeões. Temos é que ter consciência que se não podemos ter dois carros podemos ficar só por um; se não pudermos ter um, poderemos sempre usar uma bicicleta e na falta dela, também temos duas pernas e dois braços. Só é preciso um pouco de maturidade para aceitar as diferenças sociais e essa tomada de consciência só fará de nós pessoas mais fortes e de bem com a vida.

Tanta gente tem, infelizmente duas faces, não ao ponto de matar, claro, isso será no limite. Mas quando vivemos com o inimigo em nós próprios, somos por vezes gentis e ordeiros fora de portas e autênticas bestas dentro delas.

Quanta submissão, perante um patrão a quem odiamos e quanta crueldade sobre uma família, que nos ama, vizinhos, ou sobre aqueles que entendemos mais frágeis, porque falta personalidade, valores, acima de tudo amor-próprio.

Por isso é que a educação é tão importante e só através dela se pode moldar a personalidade em desenvolvimento e controlar os maus instintos, que deixados à solta acabam mais tarde ou mais cedo por levar à marginalidade.

Basta andar na rua, ver um pouco de TV para percebermos como estamos em educação, em saber estar: vale tudo para chegar mais alto; vale tudo para mostrar aos outros, o nosso “sucesso”.

Os pais delegaram na escola a educação dos filhos e o velho ditado “casa de pais escola de filhos”, também já não é verdadeiro, porque os valores da educação estão adulterados, porque se perdeu a autoridade, porque agora são os filhos que mandam nos pais e alguns de bem pequenos.

O puxão de orelhas na escola dá processo disciplinar. Ser mal-educado com um professor é normal.

Hoje educar é dar demais, tolerar demais, contrariar de menos: impor limites, dizer não, nem pensar, porque traumatiza, porque inibe o desenvolvimento… Balelas…

Houve tempos que o cinto do pai ficava bem à vista para quem o desafiasse.

Trabalha-se muito para o sucesso, para a estética, essencialmente para criar uma imagem ideal que convença os outros de que somos nós próprios.

O jovem cresce com a competitividade que lhe é incutida desde cedo (um sinal dos tempos), numa corda bamba  e quando falha, porque não se alicerçou por dentro, tudo irá ruir e o desnorte e a depressão (outro sinal dos tempos) vão aparecer para rematar um caminho sobre areias movediças.

2 comentários:

  1. Uma profunda e consciente análise da sociedade actual, no caso específico da escola e da família, mas, como este tipo de análise não tem eco nos órgãos de comunicação, fica enclausurado num espaço onde só pontificam meia dúzia de amigos e seguidores. Mais uma vez parabéns, e que continue iluminada para ajudar a abrir os caminhos necessários a uma nova sociedade.

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  2. E melhor que uma análise que se quer consciente nada melhor que um comentário gratificante. Obrigada

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