*Cristiane Lisita
A
evolução da pirâmide etária aponta para o envelhecimento cada vez máximo dos
portugueses. Entre 1991 e 2014 os habitantes com idade até aos 34 anos reduziram
muito. Também as taxas de natalidade decaíram. Dados de 2013 já acenavam que
esse país ocupava o sexto lugar numa pesquisa acerca da proporção de cidadãos
no mundo em idades mais avançadas. Dentre os 28 Estados-Membros, da UE,
ressalta o INE, que detemos: “o 5º valor mais elevado do índice de senilidade; o
3º valor mais baixo do índice de renovação da população em idade ativa; o 3º
maior aumento da idade mediana entre 2003 e 2013”. Em 2014, a situação piora e
passa-se para o 4º lugar quanto ao número de senis, em Portugal, no quadro da UE.
Pirâmides etárias sobrepostas, nesses dois âmbitos, revelam duplo
envelhecimento demográfico.
A
propósito, a questão da imigração é requisito importante tendo em consideração
que os estrangeiros geralmente são mais jovens do que a população de
acolhimento, embora se saiba que eles acabam por adotar semelhantes padrões de
fecundidade da pátria que os recepciona, e também pelo fato de que se tornarão
velhos. Segundo as projeções do INE, mesmo que os níveis de fecundidade aumentem
e os saldos migratórios sejam positivos, dificilmente se reverterá essa
situação de predominância de idosos. Um desafio que dependerá, certamente, da
quantidade de estrangeiros jovens e do fator fecundação, que tem encolhido nessa
nação, aliás, um dos fluxos mais anêmicos da Europa, afirma o Instituto
Nacional de Estatística.
A
preocupação com a velhice não é recente. Mais do que o número alto de idosos, a
forma como eles são tratados tem se desvendado um sério problema: a falta de humanidade,
e quiçá, de moral. Simone de Beauvoir, na França dos anos 70, defendia que é
preciso verificar qual o olhar da sociedade sobre os idosos, argumentando ser imperativo
desmitificar “as hipocrisias” que envolvem a senectude. Fruto da construção
filosófica de várias épocas e de locais distintos, o conceito de velhice
revela-se como “vergonha secreta da sociedade”, cujos idosos passam por
situações que lhes retiram muitas das vezes a dignidade, ao serem afastados e cruelmente
discriminados. A autora se propõe a denunciar os valores coletivos que excluem
a velhice como primazia do sistema.
O
livro nos permite repensar esse mundo egoísta, seja no que tange a Portugal, ou
a qualquer outra das tantas civilizações aonde isso acontece. Extrai-se o quanto se pode desses indivíduos e
depois, quando em avelhantada idade, os descartam como se fossem coisas, nessa
era do vazio. Trata-se de pessoas pelas ruas sem ter um teto, ou às vezes, nas
suas moradias populares sem aquecimento, sem alimento suficiente. Quantas abandonadas
pela família porque parece mais cômodo? Marginalizadas, em inúmeros sítios.
Todavia,
não se percebeu que os jovens serão os encanecidos de amanhã, e que esse
comportamento vai se perpetuar se não for alterado hoje. Afinal, ser “velho”
não é ser inútil, não é ser um peso. Ser “velho” é ter experiência, ter vida,
ter paixões. Deves-lhes todo respeito e consideração. Imaginava Séneca: “Quando
a velhice chegar aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la.
Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um
homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda
reservam prazeres”.
*Cristiane
Lisita (jornalista, escritora, jurista).
Obrigada por ter trazido este texto , valorizando a velhice que será de todos nós assunto e vivência!
ResponderEliminarMuito bem escrito. E eu, já velho, lhe estou agradecido.
ResponderEliminarPois dizem que a sabedoria é dada aos velhos, por sua experiência de vida, mas é certo dizer que ela também brinda os pensadores jovens como a autora, oferecendo a nós, que já percorremos um caminho mais distante, alegria e luz com suas palavras. Parabéns pela sensibilidade!
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