Aqueles que os defendem vêem nos TPC aspetos positivos, como sejam:
ajudar os alunos a adquirirem ritmo de trabalho; ensinar a gerir melhor o tempo
das crianças; treinar a memória e consolidar as aprendizagens.
Por outro lado, há contras que convém não desprezar: reduzem o tempo
livre para brincar (fundamental para o desenvolvimento harmonioso da criança,
na faixa etária considerada) e deixam as crianças extenuadas e irritadas, pelo
volume de trabalho exigido (e por arrastamento aos próprios pais, que, muitas
vezes, para minimizarem aqueles efeitos, acabam por serem eles próprios a
realizá-los), o que pode levar à criação de barreiras contra a escola, não
incentivando a curiosidade e o gosto pelo conhecimento. Aliás, estudos recentes
apontam neste mesmo sentido: os TPC, tal qual se apresentam (com caráter diário
e repetitivo), são fonte de infelicidade e irritação para crianças de tenra
idade. Em vez de contribuírem para a promoção do gosto de aprender, erguem as
tais barreiras em relação à escola, génese de muito do insucesso escolar (ainda
que as causas deste sejam mais amplas).
Pessoalmente, defendo que esses TPC, enquanto complemento à
aprendizagem na sala de aula, deveriam ser realizados na própria escola (no fim
das atividades letivas) e não em casa, com um caráter formativo, ou seja,
acompanhados por professores especialmente formados em apoios e complementos
educativos, que orientariam os alunos para a concretização das tarefas
indicadas pelo professor titular de turma.
Mas para que tal se efetivasse, precisaríamos de reformular
profundamente a organização da escola portuguesa, embora me pareça que este
desiderato não faça parte das preocupações mais próximas da nossa classe
política.
Mário Silva
(publicado no JN de 25/10/2016)
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