*Cristiane Lisita
Diz-se
que a espada é a alma do samurai e igualmente a sabedoria de sua existência.
Revela um alargamento de todos os seus sentidos corporais e, ainda, mentais.
Forjá-la demanda tempo e técnica. Uma porção de aço é submetida ao ardor do
fogo até se tornar maleável, possibilitando moldar o artefato a fim de obter a
forma desejável da lâmina. Posteriormente, um choque térmico na água irá
determinar a sua elasticidade e a sua rijeza. Quanto mais inflexível mais fácil
de estilhaçar. Depois é afiada e usada com honra e integridade.
Assim
como a katana, para os resistentes guerreiros, a ética e a moral devem ser
fundamentadas pela razão, pelo conhecimento e amoldar-se no tempo tendo em
conta princípios de justiça e de solidariedade. No entanto, um dos maiores problemas referente
a essa questão, hoje, diz respeito ao preconceito que se constitui em um
arcabouço de concepções errôneas, absorvidas passivamente, sem análise racional,
sem qualquer explicação lógica. Execram as minorias, seja por raça, cor, sexo,
idade. Execram os que são contrários a um poder dominante erigido, socioeconômico
ou político.
Os
homens contemporâneos semelham ter forjado a espada com descomedimento de
aspereza, colocando-a em vias de fragmentar. Não se aceita as diferenças. Não
se acolhe os desiguais. Desta feita, esse gládio jamais será a extensão de um indivíduo
em equilíbrio, cunhado à imagem e à semelhança de seu Criador. No poema Guerreiro, Augusto Branco denunciara: “Olhai
o mundo de injustiças e sofrimento ao redor. Talvez você já nem consiga fazer
isso, ante a própria dor que sente. (...) É preciso prostrar-se como um
guerreiro em todas as situações, mas principalmente contra a falta de Amor,
contra a Indiferença, a Ambição e a Deslealdade de muitos”.
Tão
somente o verdadeiro amor será capaz de combater o caos em que nos achamos.
Revela-se ele a única, e inextinguível, artilheira urdida, arduamente, com os
elementos substanciais para conquistar a paz e combater o inimigo, que, às
vezes, está em nós mesmos. Sobreporia o poeta: “é preciso ir à Guerra ciente de
que não é apenas a espada, a armadura, o escudo e a lança que fazem o
guerreiro, mas, sobretudo, a Paixão e o Espírito. (...) Será preciso que muitos
guerreiros se unam na difícil tarefa de conseguir oferecer uma rosa para aqueles
que lhes ferem o peito”. Desse modo, ainda que tombe o Samurai entre as efêmeras
flores da cerejeira, defraudadas por algum vento, a história da katana, eterna,
permanecerá.
*Cristiane Lisita (escritora, jornalista, jurista)
Sábias palavras! Para moldar nossos corações, pensamentos e atitudes, a sutileza de um artigo profundo e delicado, como os temas da atualidade merecem. Reflexão que se propõe contínua. Parabéns!!!
ResponderEliminarQue belo documento! Só é pena que fique na paragem do autocarro, que se transformou o nosso blogue, pois o veículo que há-de levar as nossas palavras deixou de circular nesta via, ou quando o faz é lá de tempos a tempos.
ResponderEliminarÉ verdade. Já temos tão poucas hipóteses de publicar. Resta-nos o Face Book mas aquilo também é uma espécie de vazadouro... Quanto ao que nos diz a Cristiane, diz-nos sempre de uma forma tão poética, tão bela. E, coisas importantes. Uma maravilha!
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