Hoje foi bom. O tempo simpatizou connosco, aqueceu-se, afastou
cenários assombreados, lutuosos.
Foi mesmo o grande acontecimento do dia, a sua mudança de
humores.
Do que sobra para dizer é quase nada e displicente: não nasceram
nem mais nem menos pessoas do que ontem; algumas vão ser absolutamente
irrelevantes na sua passagem, outras não, algumas ainda vão ser híbridas. Do
número de mortos contabilizam-se mais ou menos os mesmos da véspera, uns irão a
enterrar outros ficam anónimos de como atravessaram a vida com pressa de saírem
dela para o nenhures.
Se alguma guerra terminou não se deu conta. Se começou uma nova,
daremos conta no noticiário do jantar, mas já é difícil comover-nos.
Crianças órfãs, violentadas, violadas, contam-se por muitas, mas
não é preocupante porque ontem e o dia de amanhã dirão uma contagem idêntica.
O número de vilões per capita
mantém-se estacionário, apesar dos pessimistas acharem que a tendência é para
aumentar. Os optimistas, fiéis à sua fé, estão convencidos que os vilões estão
a desaparecer e que o Bem triunfará finalmente sobre o Mal. Não se sabe quando,
mas a fé é inabalável, não se questiona e conjuga bem com a razão.
Os melancólicos continuam a fumar muito, vão ter problemas no
futuro se insistem e cada vez está mais caro. Os fleumáticos ainda não
decidiram se gostam de fado, mas são vistos a frequentar as casas da
especialidade. Também marialvas, mas por outras justificações.
Entre uns e outros há uma quantidade estatisticamente omissa de
indivíduos que não sabem/não têm opinião. São esses imprevisíveis que
descredibilizam as agências de sondagens.
Os amorfos arruínam as estatísticas. De repente alguém
sopra-lhes ao ouvido uma mentira piedosa, e lá vão eles, todos, a correr, depositar
voto de confiança. Em quê? Não sabem. Depois é no que dá: a quantidade de
estúpidos que não para de aumentar e a quantidade de espertos que não para de
enganar os primeiros.
“Rating” é uma palavra inglesa, que nem sequer soa bem.
E foi assim, nada de realmente importante aconteceu no dia de
hoje, mais um, em que dizem que começou a primavera e nós não podemos dizer que
não, porque eles é que são os fazedores de opinião.
Amanhã, apesar da possibilidade de aguaceiros esperam-se boas
abertas, mas é tudo uma lotaria, sem aviso o tempo pode carregar-se ainda mais
de sombrio petróleo, ou desanuviar, nunca se sabe.
redondo vocábulo - www.luizrobalo.blogspot.pt
Luís, só lhe posso dizer que este seu vogar sereno e e inteligente sobre o Mundo, me encanta. Não diz nada de gongórico nem tonitroante mas antes de muito bem pensado, muito mais que bem escrito, que também o é.
ResponderEliminar