Como o Oriente julga a Civilização Ocidental
“Para as nações orientais, desde o aparecimento dos
europeus, a terra não respira já esta paz que era o espelho da sua felicidade.
Se a consciência culpada de certas nações europeias evocou o espectro do “perigo
amarelo”, não poderá a alma torturada da Ásia lamentar-se das realidades do
“desastre branco”?
Pode parecer natural ao espírito dos Ocidentais
contemplar, com um sentimento de triunfo
sem mácula, este mundo de hoje, no qual a “organização” fez da sociedade uma
máquina imensa, provendo ela própria às suas necessidades... E, todavia, a China, com a sua doce ironia,
considera a “máquina” como um instrumento, não como um ideal.
O Oriente venerável
faz ainda a distinção entre os meios e o fim. O Ocidente é favorável ao
progresso; mas para onde tende o progresso? Quando a organização material
estiver completamente realizada, que fim, pergunta a Ásia, tereis vós
atingido... A dimensão, só por si, não constiui a verdadeira grandeza, e a
procura do luxo não conduz sempre a um refinamento.
Os indivíduos que cooperam na montagem da grande máquina da
chamada civilização moderna tornam-se escravos dum hábito maquinal e são
impiedosamente dominados pelo monstro que criaram. A despeito da famosa
liberdade do Ocidente, a verdadeira individualidade é aí destruída, na
competição pela riqueza; a felicidade e a alegria são aí sacrificadas ao
insaciável desejo de possuír sempre mais. O Ocidente glorifica-se de se ter
emancipado das superstições medievais; mas o que é este culto idólatra da
riqueza que as substituíu”?
Okakura – Os Ideais do Oriente – Edições Payot.
Amândio G. Martins
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