O futebol é
um jogo extraordinário. Baseado em regras simples, dá forma a um conceito que
toda a gente entende. Onze jogadores defrontam outros tantos com dois intuitos:
meter um pedaço de couro (?) esférico e insuflado dentro de uma gaiola e evitar
que os adversários façam o mesmo na gaiola contrária. Depois, há as faltas às
determinações da lei e as respectivas punições, com graduação “geográfica”:
umas vezes, são um pontapé livre com oposição ostensiva, outras vezes, se a
falta foi cometida em determinada zona do terreno, será um pontapé livre também,
mas sem qualquer oposição, excepto a do guarda-redes.
Com o tempo,
as regras foram-se adaptando segundo os critérios dos peritos (consta que
alguns deles nunca jogaram o jogo), mas, como num fenómeno de “pescadinha de
rabo na boca”, a crescente melhoria no desempenho dos jogadores motivou maior interesse
dos espectadores e apoiantes, e este interesse acrescido levou a que os grupos
de jogadores, entretanto organizados em clubes, se fossem aprimorando na execução,
ao ponto de se profissionalizarem e contratarem “pensadores da bola” para
arquitectarem esquemas inteligentes capazes de, num período de hora e meia,
conseguirem a meter a bola na gaiola adversária mais vezes do que os opositores
na sua.
Comecei por dizer
que o futebol é um jogo extraordinário. Repito, ciente da satisfação que me é
dada quando vejo duas equipas lado a lado, ou frente a frente, lealmente e de
acordo com as regras, a disputarem os encontros que, antes do mais, deviam ser
uma festa. Porquê? Porque os objectivos são os mesmos, ambas estão ali para darem
o seu melhor, num denodo e sacrifício às vezes medonhos, não contando com a
sorte ou com o azar, que, invariavelmente como na vida, sempre aparecem. Também
deveria ser uma festa porque encontrar um rival na luta é o que se deveria
pretender antes de tudo. Lutar contra agentes inofensivos não dá glória. Há
quem confunda os agentes da ordem, os árbitros, com elementos determinantes
para os resultados finais. É certo que, às vezes, são mesmo, mas, isto é como nos
tribunais: não se pode discutir com base em critérios racionais.
O nível de
sofisticação que o futebol alcançou é verdadeiramente notável. Nunca se viu o
primor técnico que tantos jogadores exibem hoje em dia – não só os Ronaldos e
os Messis -, nunca se percebeu, como hoje, que a disposição táctica das equipas
no campo tem tanta importância, nem se sonhou alguma vez que as capacidades de
liderança de alguns são tão importantes para introduzir a bola na baliza
adversária.
O futebol galvaniza
as atenções, pode-se dizer, do mundo inteiro. Só tenho pena de que muita e muita
gente olhe o futebol como uma coisa que “já” não é um jogo. Bem sabemos que as partidarites,
na política, na religião, nas ideias em geral, e, é claro, no futebol,
envenenam as relações humanas. Destorcem o que de belo existe no confronto puro,
desinteressado e leal de ideias, de preferências ou de interesses. Essas gentes
são as que jogam “contra” outros, mas estão enganados, jogam “com” outros.
Também costumam chamar “inimigos” aos outros que são, apenas, “adversários”.
Bruno de
Carvalho obteve hoje uma grande vitória. Uma das primeiras coisas que fez,
enquanto afagava os “louros”, foi “intimar” os comentadores afectos ao Sporting
a abandonarem os programas em que intervêm. Outra foi convidar os sportinguistas
a não consumirem jornais ou programas televisivos. Ele lá sabe. O exemplo não é
bom, mas, se está a querer acabar com os hediondos e intermináveis programas
que nos infernizam a vida, por mim, esteja à vontade.
Bruno de
Carvalho não é o primeiro a fazer proclamações descabeladas. Pinto da Costa e
Luís Filipe Vieira já o fizeram. Palpita-me até que os três, bem como os seus
sucessores, o farão muitas vezes mais.
Não é só na
América que existem Trump’s. Uma coisa peço aos quatro: não venham escrever
aqui n’ A VOZ DA GIRAFA.
Já hoje comentei o "O Galarote e o Rebanho" do Francisco Ramalho. Direi que, aqui, o meu acordo também é total.
ResponderEliminarRealmente, o futebol que vale a pena é o que se joga no sítio certo; o "futebol" da verborreia, escrita e falada, mete mesmo nojo! E não era suposto um espaço destes servir para isso, mas garatujam-se aqui enormes "emplastros" desse tipo de coisa...
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