segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Decidits i ferms



- Num país aqui ao lado, a escassos quilómetros, que para lá chegar escusado é atravessar tanto mar, há um povo com uma língua, uma cultura, um hino e uma bandeira próprias e antigas, que a cada dia se levanta firme, por cada noite que em Portugal se adormece anestesiado por vários meios. Os homens que daqui partiram para terras de Espanha, para lutarem ao lado dos que morreram pela Liberdade, em tempos de franquismo e de falangismo, parece não existirem mais. O amorfismo está instalado neste rectângulo encostado, que faz o todo ibérico, que nos acrescenta apenas, indiferença, e nos afasta da solidariedade que um povo precisa e merece e até lhes devemos. A Catalunha, é já aqui, e não no fim do mundo, por quem nos compadecemos sem fazer ondas, por dá cá aquela migalha. Jovens e velhos catalães, homens e mulheres, lutam por uma causa justa e sangrenta de séculos, e nós assobiamos para o lado como que incomodados por algum desconforto provocado por mau vizinho, que se manifesta enchendo "carrers i avingudes" dolorosas. Na guerra civil por terras de moinhos fantasiosos e de fuzilamentos cegos mas reais, portugueses houve que partiram para morrerem ao lado dos irmãos "rojos" e contra as amarras castelhanas, com o nobre intuito de derrotarem o fascismo. Nos dias de hoje, em Portugal, constata-se um escuro apagão, quer nos média, quer nos meios de mobilização, que nos torna a todos, paralíticos e idiotas. Sete milhões e meio de catalães, que sacrificam presos políticos "decidits i ferms", estão atirados à sorte pela sua autodeterminação, sem poderem contar com o auxílio do povo mais próximo de um dos lados da separação fronteiriça. "Que povo. Mas que povo é este"?
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