Onde as ordens não se contestam...
Em meados da década de sessenta do século passado, era eu
ainda rapaz e vivia em Lisboa, acompanhei de perto a tragédia que vitimou dezenas
de soldados na serra de Sintra, para aonde tinham sido mandados pelo comando da
unidade a que pertenciam, com a “missão”
de apagar um enorme incêndio; aqueles rapazes, que andavam a ser treinados para
as guerras nas colónias, não tinham qualquer formação para apagar fogos, tendo
sido literalmente atirados para aquilo por decisores incompetentes e
irresponsáveis.
Nos últimos tempos causaram comoção nacional um
inacreditável roubo de armas e as mortes de rapazes em exercícios sobre-humanos
que não estavam inscritos em qualquer norma supervisionada por gente
conhecedora e respeitadora das limitações humanas, mas tão-só porque os
“treinadores” entenderam que deviam exigir aquele esforço porque ser “comando”
não é para “maricas”, na linguagem de carroceiro que nesses lugares é corrente usar-se.
Do livro anexo transcrevo o comentário da edição portuguesa:
“A velha ideia de que os desastres militares e a
incompetência que revelam se devem apenas à simples estupidez é, neste livro,
pela primeira vez posta em causa. De facto, Norman Dixon faz desabar esta ideia
procurando mostrar que raramente se aplicará, pois que as causas da
incompetência militar são, em geral, de ordem emocional e não intelectual. Assim,
este livro descreve as causas humanas dos desastres militares e revela o
paradoxo intrigante de como as características mais desajustadas a posições de
comando efectivo são, muitas vezes, exactamente as mesmas que tendem a
favorecer as subidas de posto”.
Ele próprio ex-militar
de carreira nos “Royal Engineers”, Norman Dixon escalpeliza as tragédias ocorridas
nas mais célebres batalhas dos últimos duzentos anos, onde por pura incompetência
de estrategos para quem a vida de um homem valia menos que um vintém se perdeu
um assombroso número de vidas humanas...
Amândio G. Martins
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