sábado, 6 de outubro de 2018


Onde as ordens não se contestam...


Em meados da década de sessenta do século passado, era eu ainda rapaz e vivia em Lisboa, acompanhei de perto a tragédia que vitimou dezenas de soldados na serra de Sintra, para aonde tinham sido mandados pelo comando da unidade  a que pertenciam, com a “missão” de apagar um enorme incêndio; aqueles rapazes, que andavam a ser treinados para as guerras nas colónias, não tinham qualquer formação para apagar fogos, tendo sido literalmente atirados para aquilo por decisores incompetentes e irresponsáveis.

Nos últimos tempos causaram comoção nacional um inacreditável roubo de armas e as mortes de rapazes em exercícios sobre-humanos que não estavam inscritos em qualquer norma supervisionada por gente conhecedora e respeitadora das limitações humanas, mas tão-só porque os “treinadores” entenderam que deviam exigir aquele esforço porque ser “comando” não é para “maricas”, na linguagem de carroceiro que nesses  lugares é corrente usar-se.

Do livro anexo transcrevo o comentário da edição portuguesa:
“A velha ideia de que os desastres militares e a incompetência que revelam se devem apenas à simples estupidez é, neste livro, pela primeira vez posta em causa. De facto, Norman Dixon faz desabar esta ideia procurando mostrar que raramente se aplicará, pois que as causas da incompetência militar são, em geral, de ordem emocional e não intelectual. Assim, este livro descreve as causas humanas dos desastres militares e revela o paradoxo intrigante de como as características mais desajustadas a posições de comando efectivo são, muitas vezes, exactamente as mesmas que tendem a favorecer as subidas de posto”.

 Ele próprio ex-militar de carreira nos “Royal Engineers”, Norman Dixon escalpeliza as tragédias ocorridas nas mais célebres batalhas dos últimos duzentos anos, onde por pura incompetência de estrategos para quem a vida de um homem valia menos que um vintém se perdeu um assombroso número de vidas humanas...




Amândio G. Martins






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