DE AGOSTINHO DA SILVA
Dando expressão
política a particularidades geográficas e étnicas, interessada pelo comércio
marítimo e aguilhoada ainda pelas ambições e planos de Borgonha e de Cister, se
constitui a nação no séc. XII como independente de seus irmãos de Ibéria.
Embora a tarefa principal tenha sido a de empurrar o mouro para o Sul, com as
fronteiras provisórias, sempre avançadas, do Douro, do Mondego, do Tejo e do
mar de Algarve, não se deixou de pensar na raia de Leste e, durante séculos,
foi uma das determinações da vida do país a oposição, com fortuna vária, a Leão
e Castela, quase sempre confundidas com a totalidade da Espanha, que bem virada
estava a outros pontos.
Internamente,
se estabelece Portugal com uma rede de municípios republicanos e democráticos,
cada um com a sua constituição adequada às características locais, confiando-se
a representação ou convivência de todos eles a delegados que se reuniam em
Cortes, sem prazo fixo, e aí discutiam dos problemas particulares ou comuns do
Reino; a tudo coordenando, havia o Rei, simultâneamente hereditário e electivo,
ainda que por sanção, Rei sem capital fixa, mais fiando de seu passo que de um
Paço; donde estava vigiava, ouvia, ordenava, dispunha, melhorava e, às vezes,
pois que humano, piorava.
O económico
se firmava no comunitarismo agrário e pastoril, mais tarde alargado ao mar, com
as aldeias na posse colectiva de suas terras e de seus instrumentos de trabalho
e de vida, mas com economia de mercado no que tangia ao produto de seus
sorteados lotes; o que não era do Povo era do Rei, dos nobres ou do clero: de
alguma forma, daqueles a que o geral se confiava para o governo ou a defesa ou
o transcendente, no qual último, ainda que diluída, se guardava a lembrança
anti-romana do priscilianismo e se havia de mostrar o joaquinismo como forte
muro nacional: Deus e Papa se distinguiam claro. Fora uma ou outra escola – e a
experiência da Universidade não foi das melhores – se educava a gente menos em
escrituras do que se via nítido e no que vivia profundo. O que daria seu fruto.
Ou “fruito”, como então se dizia e mais belo encontro .
Com o
ferrolho de Aljubarrota a fechar por algum tempo os portões do Norte e do
Leste, se abriam, para continuar o impulso inicial, o mar do Algarve e o do
Grande Oceano. Dava aquela varanda para a inteira África, ou pela travessia do
Magrebe ou pelas conhecenças de costa; dava o segundo para tudo que fosse
necessário para, pela primeira vez, circum-nevagar o Globo. No duplo empreendimento
se esgotaram todas as possibilidades da Nação, a si própria pondo de lado: ao
ordenar da casa, se preferiu a exploração, ou invenção, de um mundo que cidade
fosse; houve a curiosidade de saber e o gosto da experiência, sobrelevando o do
experimento, por ela depois desencadeado, mas noutras terras; houve a cobiça do
ouro e a aventura da navegação, do combate e do roubo; houve o espanto e a
adoração do descoberto; houve a esperança de uma religião ecuménica. De tudo
resultou que se verificaram a unidade dos mares e o ilhamento dos
continentes.Tudo se foi pagando, a partir de D. João II, na frustração da
política, da economia, da educação e da transcendência do país.
NOTA – Texto
compilado por Amândio G. Martins
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