Sou dos que pensam que a desintegração da União Europeia,
a acontecer, terá consequências catastróficas. Sou dos que pensam que, só
porque uma cáfila de neoliberais se apropriou do aparelho e subverteu todos os
valores da sua construção, não se deve deixar ao abandono a luta para a
conduzir ao ideário inicial. Sou ainda dos que pensam que a grande beneficiária
de uma eventual débâcle da União
será, sem dúvida, a extrema-direita. Seja como for, o caminho que as coisas
levam faz-me lembrar aqueles casais em fim de ciclo que não ousam dar o passo
do divórcio, por temerem as consequências. Persistem e persistem na paz
podre que, normalmente, tem tendência para piorar. Até que, por fim, o
cansaço instala-se, e acabam por achar que “já não vale a pena” e que o que
vier aí de mau não será certamente muito pior do que “aquilo”. Ora, nem sempre,
mas às vezes, o temeroso passo acaba por se revelar menos mau do que parecia,
sobretudo quando é dado em condições em que não foram ainda destruídos todos os
laços de civilidade. Será que as pontes entre as diversas sensibilidades
europeias não estarão a ameaçar ruptura, tudo sendo, depois, mais difícil e, se
calhar, inevitável? É que uma coisa é
certa: não é esta a Europa com que se sonhou. Para além de que a usura a que a
estão a submeter pode vir a ser demolidora, cada vez menos havendo condições
para a “consertar”. A haver divórcio, ao menos que seja amigável. Litigioso,
não.
Expresso, 20.02.2016 – texto truncado das partes
sublinhadas, que considero de certa relevância, sobretudo a primeira.
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