A minha
aldeia, Serdedelo, foi atingida, no passado domingo, por uma coisa nunca antes
vista por cá. Mas se os danos materiais são elevados, não houve, felizmente,
vítimas a lamentar.
Foram dois
dias de trabalho intenso, em que todos se uniram para ajudar a remover incontáveis
toneladas de entulho – lama, pedras e árvores – que foram arrastados encosta
abaixo, invadindo casas e arruamentos.
Pretendo, com
estas linhas, destacar o sentido de entreajuda que continua vivo nas nossas
aldeias. De facto, não foi preciso serem chamados; todos, velhos e novos, até
aqueles que trabalham por turnos, noutras localidades, ao saberem pelas rádios e televisões da
verdadeira dimensão do que acontecera na
noite anterior, mal chegavam a casa, mudavam de roupa, pegavam nas ferramentas e acorriam sem demora
a tentar minimizar o sofrimento de um semelhante em momento difícil.
É que as
máquinas não chegavam aos pontos onde o entulho mais tolhia a vida das pessoas,
sendo preciso muito trabalho braçal, que foi intenso nestes dois dias em que a
chuva deu tréguas. Ainda não está tudo concluído, mas já se pode circular com
mais facilidade para proceder às limpezas finais e poder avaliar o montante das
obras necessárias para repor as coisas como estavam.
Como é bom de
ver, também ajudei no que pude, tendo até aparecido no centro de uma foto na
primeira página do JN, enterrado na lama, de galochas e pá na mão. Não posso
terminar sem referir um episódio que a todos emocionou: a família mais atingida
perdeu vários animais, entre os quais se julgava também o cachorro debaixo da lama; mas, para surpresa geral,
acabou por aparecer, nítidamente desorientado no meio de tanta gente. E quando
o dono, alertado, chamou por ele, estendendo os braços na sua direcção, o bicho
saltou-lhe para o colo, chorando ele e o dono e fazendo chorar os
circunstantes.
Amândio G. Martins
O infortúnio juntou as pessoas e até o cãozito.Comovente. Sem dúvida. Mas que se voltem a juntar por outros motivos agradáveis.
ResponderEliminarÉ, senhor Ramalho. As pessoas andam cada vez mais ensimesmadas, cada um remando para o seu lado. Mas é reconfortante verificar que, em casos como este, se mobilizam, não assobiem para o lado...
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