Os meninos das mamãs
A vontade de escrever é muita, e a revolta ainda é maior. Já outros o fizeram, mas se mais vozes cheias de palavras prudentes ecoarem que nem vacas voadoras, talvez a intenção e o propósito que anima o actual governo mais se afirmará, e não voltará atrás nem cede, com o projecto de acabar com a mama e o assalto aos contribuintes que pagam os luxos dos papás e dos meninos amarelos, que andam de casa para o colégio privado em topo de gama, ou em bólide bem estimado, e não sofra qualquer recuo havendo como há, alternativa com qualidade e à vontade do freguês, na Escola Pública. Quem observar como quem vê bem dos dois olhos, e com o cérebro, constata que naquela mole de crianças ungidas e arrebanhadas, e de pais arrogantes que se manifestam em defesa dos privilégios que têm sacado ao erário público, criado pelos contribuintes, empunhando cartazes feitos a régua e a esquadro, e coloridos pela cor que alerta para uma febre aburguesada, não se vêem entre eles operários da construção civil, mulheres de limpeza, rurais, precários de toda a ordem, mal pagos, assalariados do RSI, que se deslocam em bicicleta de pedal, mas antes rostos de quem é oriundo de empregos sem salários com atraso, funcionários de serviços bem remunerados, e até estatais ou autárquicos. Não há naquele ajuntamento de pais e filhos, gente com mãos grossas, gretadas, nem rostos cansados, angústiados por dívidas da luz e da água, rendas de casa, condomínios por saldar, mas donos de frigoríficos vazios e a cheirar a mofo por não funcionamento, e com os vedantes da porta apodrecidos, mais o fogão enferrujado e sem tacho ao lume. Esta gente que agora se manifesta é a mesma que nunca saiu à rua para defender outros estabelecimentos de ensino, professores, nem encerramento de serviços médicos, tribunais, ou postos de trabalho fabris, etc. Muito menos para o encerramento de "lixeiras educativas", excepto aquelas que os incomoda ao pé da porta, e por não ter qualidade e ser pública. Que não lhes serve, mas que estão bem para os outros. Agora que a mama dos subsídios, que os alimenta e os mantém num estatuto incompreensível, inadmissível, à custa do zé povinho, parece estar ameaçado, soltam o verniz e enfileiram-se com as crianças pela mão e mostram o lado malcriado e ofensivo em plena rua e para câmara de tv divulgar, abençoados pela igreja solidária e defensora também dos seus privilégios e pecaminosos aproveitamentos. Agora de hábito preto e não de amarelo. Nos colégios consagrados com nomes de santos que eles frequentam, julgamos nós que a primeira lição que lhes devia ser administrada, é aquela que os esclareceria de que, quem quer luxos paga-os. Os impostos que eles reclamam pagar para reivindicarem o direito a escolha e àquele ensino particular, são menores do que aqueles que nós outros pagamos ao Estado, para manter de pé o Ensino Público e o que eles pretendem manter em igualdade à nossa custa. Eles podem continuar a escolher o tipo de ensino que quiserem, mas que o paguem do seu bolso, e não através da exploração do zé varredor, que mal ganha para a côdea e anda a pé, e que mesmo assim conseguiu formar e licenciar os filhos nas Universidades. Alguns de muito gabarito e grande prestígio!
E quando se diz que a escola pública é mais barata, façam as contas às contas finais e juntem-lhe o que se paga em explicações para pôr os meninos a saber o que deveriam aprender na escola. Nos colégios os meninos vêm para casa com os TPC feitos; na escola pública os pais são chamados a colaborar com tempo e conhecimento, roubando ao convívio familiar muitas horas de acompanhamento pedagógico, que se deveria restringir ao espaço escolar.
ResponderEliminarQue bela fotografia amigo Mouraria! Uma fotografia com arte. Está lá tudo sobre esta sociedade ainda tão desigual. Os privilegiados a baterem-se para que o continuem a ser, à conta dos que o amigo, também, tão bem focou.
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