AS LEIS DE DRÁCON
As dissenções
políticas e sociais que se verificaram ao longo de toda a história de Atenas
começaram muito cedo. Como Atenas, ao contrário de Esparta, nunca tinha sofrido
imigrações de povos estrangeiros, não conheceu oposição entre uma classe de
conquistadores e uma população oprimida.
As perturbações
sociais tinham em Atenas causas puramente económicas. A passagem de uma
economia de troca para uma economia monetária provocara aí, como em muitos
outros lugares, o aparecimento de enormes fortunas ao lado da mais negra miséria.
A Grécia viu assim estabelecer-se a mesma relação entre o capital bancário e o
suor camponês que em tempos existiu na Babilónia.
Enormes taxas
de juro sobrecarregavam os pedaços de terra dos pequenos camponeses com
hipotecas cada vez mais pesadas. Viria fatalmente o dia em que o pequeno
proprietário já não poderia pagar. Neste caso, a terra passava para a posse do
credor, que podia dispor dela até ao dia em que a dívida fosse reembolsada
juntamente com os respectivos juros.
As leis sobre
dívidas eram de tal modo duras que o credor tinha o direito de vender como
escravos o antigo proprietário do terreno, a sua mulher e os filhos. No seu
desespero, o povo fez várias tentativas para tirar esses poderes aos
capitalistas, entregando-os nas mãos de um
soberano, que ditaria o direito.
Os atenienses
quiseram acabar com estas lutas sociais; cerca de 620 a.C. confiaram ao
aristocrata Drácon a missão de dar leis escritas ao Estado. Mas Drácon não era
o homem sonhado para resolver esta situação difícil. Concebeu uma legislação tão
severa que os atenienses a consideraram “escrita com sangue”. Drácon punia
quase todos os crimes com a morte.
Mas as leis
de Drácon acabaram com os actos de justiça expeditiva e as vinganças, fazendo
do Estado a úniva instância judiciária, interpondo-o entre o assassino e quem
se queria vingar do crime. Não lhe foi possível abolir de uma só vez um costume
tão enraizado como a justiça privada; de qualquer modo, garantiu ao cidadão uma
maior segurança e por isso mereceu o louvor da sociedade ateniense.
As primeiras “leis
draconianas” não eram tão duras como as gerações futuras as julgaram, embora
fossem demasiado rígidas para se poderem conservar por muito tempo.
Transcrito da
“História Universal” de Carl Grimberg por
Amândio G.
Martins
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