Há dois dias, uma notícia no Público deixou-me boquiaberta: "a Biblioteca de São Lázaro e a Junta de Freguesia de Arroios unem-se numa iniciativa que pretende distribuir gratuitamente 2500 livros pelas ruas". (Qual o critério de seleção das obras?- não percebi). Vemos, na foto que ilustra o artigo, livros colocados em bancos de jardim. Mas podem igualmente ser «caçados» em cafés e quiosques. (Caçar livros?) .
"Ler e conhecer mais livros traduz-se em mais conhecimento. E as pessoas mais informadas são pessoas mais livres”- os organizadores desta iniciativa «leva-me contigo» querem que as pessoas tenham menos medo dos livros...os livros são levados e distribuídos na rua, porque as pessoas não vão às bibliotecas buscá-los...
Que pena, que desperdício...ter livros para se ler gratuitamente e não fazê-lo. É preciso levar a comida à boca de tanta gente... Fazer-lhes a papinha toda?
A Itália, por seu turno, procurando fomentar hábitos culturais, vai fazer aquilo que o presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, José Jorge Letria, partilha hoje connosco: o Governo de Matteo Renzi vai oferecer 500 euros a cada jovem que complete 18 anos durante 2016. Cada um deles poderá dispor dessa quantia unicamente em gastos com museus, exposições, aquisição de livros , concertos e outros eventos culturais.
Cada um a seu jeito, Portugal e Itália como exemplos, procuram levar os jovens a consumirem mais cultura e a "tornarem-se cidadãos mais activos e críticos graça a esse consumo".
Depois , há um outro aspecto que o escritor e jornalista realça: no caso da Itália, ( claro), a Cultura recebe o mesmo valor que o combate ao terrorismo e à segurança!
Pergunto eu: qual será o combate / batalha mais fácil de travar, o fomento de hábitos culturais entre a população ou a luta anti- terrorismo?
Estas duas notícias espantosas e admiráveis (o deixar-se livros na rua para serem 'caçados' e desejados, etc.) , levaram-me a retirar Alberto Manguel (1948) da prateleira (Uma História da Leitura) para recordar o seu amor pelos livros : "Cada livro era um mundo em si e nele eu procurava refúgio. os próprios livros eram talismãs (...). Lia estes livros com um cuidado especial e guardava-os para momentos especiais." Manguel fala-nos de um professor (Idade Média) que aconselhava os seus alunos a pegar num livro para o levar e beijar, como se de um tesouro se tratasse!
No século XXI, talvez já não haja mais tempo nem paciência para o silêncio e a reflexão e o pensar que exige a leitura...ou Talvez, acredito nisto, seja necessário, reaprender (em casa, sobretudo, pelo exemplo dado pelos pais) este amor pelos livros.
E , finalmente, ponho -me a pensar na privacidade não só da leitura, mas também na decisão sobre o que ler, na escolha dos livros;
e que o amor pelos livros pode acontecer como um amor à primeira vista, ou um amor de verão, mas a maioria das vezes não;
e vai ler-se mais se os livros forem dados? ; e, finalmente, a poucos dias de se iniciar o ano letivo, a leitura será mais uma vez o problema.
Como despertar o interesse pela leitura e pelo conhecimento das matérias e de si mesmo ?
Todas as ofertas públicas que tenham a intenção de fomentar a leitura são bem vindas e não é necessário começar a classificá-las como melhores umas que outras. Os jovens não lêem porque a escola não fomenta tal hábito e os programas não os orientam nesse sentido. Os bons hábitos não devem ser perdidos e, por isso, seria bom que os exemplos referidos neste artigo proliferassem.
ResponderEliminarPouca gente lê. E, se lê, não compreende o que leu. E milhares de alunos não sabem interpretar o que lêem. São uns analfabetos com a albarda, digo, mochila cheio do que não manuseiam. O essencial, hoje em dia, é terem um telemóvel topo de gama, mesmo que sejam uns sem-abrigo. Esta sociedade é o caos a todos os níveis sociais e comportamentais. Eu chego a cheirar o que leio. Estarei ensandecido?
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